Ulysses, de James Joyce



“E voltar era a pior coisa que você podia fazer porque era desnecessário dizer que você se sentiria deslocado já que as coisas sempre se deslocavam com o tempo”


“Ele não havia arriscado, não teve expectativas, não havia sido desiludido, estava satisfeito”


Finalmente, terminei de ler Ulysses, um dos livros mais temidos da literatura. Não é para menos.

Tudo começou no meu primeiro ano da faculdade de Letras, quando estava esperando o ônibus de volta para casa e escutei a conversa entre dois veteranos, dos quais falaram sobre Ulysses. A conversa era basicamente a seguinte:

-Cara, você já leu Ulysses?

-Não

-Eu li nessas férias. É difícil, mas muito bom. Porém difícil.

-Ahn.

De qualquer maneira, esse garoto não sabe, mas ele me despertou a vontade ler este livro e, naquele mesmo ano, o comprei. Depois disso, ele ficou bons dois anos ocupando um enorme espaço em minha estante. Confesso, tinha medo.

Em pleno tédio de uma tarde da quarentena, olhei minha estante e Ulysses estava lá, ele me  olhou e correspondi ao olhar e, finalmente, disse: agora é o momento de ler você. E foi o que fiz.

Foi uma leitura muito, mas muito repleta de altos e baixos. Momentos de intenso envolvimento, outros de completo estafo e alguns de profunda melancolia. Se eu disser que foi fácil e super prazeroso, estarei veementemente mentido para vocês e, digo mais, durante muitos episódios quis desistir. Mas não o fiz.

Vamos, então ao enredo desse livro...

Enredo

Ulysses é praticamente uma parodização de Odisseia, de Homero. Temos mais de mil páginas que nos relata um dia na vida de dois personagens: Leopold Bloom e Stephen Dédalus, embora Bloom seja de longe o personagem principal desta história, Stephen tem importância crucial.

Na minha edição há um esquema em uma tabela com algumas informações de cada episódio que me ajudaram muito a interpretação durante a leitura. Dessa forma, observamos que a história iniciará às oito horas da manhã, durante o café da manhã de Bloom até às duas da madrugada, quando ele finalmente vai dormir. Bom lembrar que Stephen e Leopold encontram-se bem depois no enredo, pois por um longo tempo são apenas dois desconhecidos.

Durante esse dia, acontecem diversos acontecimentos que pareciam até mesmo fofocas: Bloom tem um casamento frustrado com uma mulher chamada Marion. Ela o trai com muitos homens e por todo o enredo somos levados a comentários extremamente maldosos quanto a Bloom e a sua esposa (por vezes, sentimos muito por ele). Ele tem uma filha e percebemos que ele tem dois ressentimentos principais: a dor da morte prematura de seu filho e o suicídio de seu pai. É, por fim, um personagem solitário, isto é, demasiado humano.

Esse percurso nos será apresentados incontáveis personagens, alguns que terão seu momento apenas uma vez durante a história.

Linguagem

Um dos comentários que mais ouvimos sobre esse livro é de ser um livro muito difícil. Não vou desmentir.

Temos aqui uma construção de narrativa que, até então, nunca tinha visto em nada lido por mim. É evidente que Joyce não queria facilitar a vida de nenhum leitor, porém não podemos dizer que ficamos presos a uma rotina, ao contrário: cada episódio/capítulo terá um estilo de escrita diferente, como se fosse um livro praticamente experimental; alguns com parágrafos muuuuito longos, outros em formato de teatro, fluxos de consciência, monólogo interior, parodização de romances vitorianos, enfim, diversas formas diferentes de contar a história. 

Importante ressaltar: Ulysses tem uma linguagem que remete a oralidade, lembrando que é um livro que se passa em boa parte nas ruas de Dublin, então teremos muito a questão do coloquial e variedades linguística.

Referências

São DIVERSAS as referências que o livro apresenta, especificamente quando Stephen Dédalus aparece, até porque ele tem essa personalidade intelectual. Portanto, deixarei abaixo uma pequena lista dos livros os quais eu pude capturar nesta primeira leitura e podem ajuda-los no entendimento de algumas passagens:

-Muito Shakespeare, mas principalmente as obras Hamlet e A Tempestade;

-Odisseia, de Homero; porém não se prendam totalmente a isso;

-História da Irlanda que pesquisei por esse link da Wikipedia mesmo: https://bit.ly/32oMuxq

-Assim falou Zaratustra, de Nietzche;

- O retrato do artista quando jovem e Dublinenses, dele mesmo, James Joyce; pois o Stephen Dédalus aparece em ambas as obras de Joyce, em que no caso do primeiro, conhecemos sua infância e adolescência;

Porém, principalmente, Shakespeare.

 

Considerações finais e por que ler Ulysses?

Não foi um livro que se tornou o meu preferido de minha vida e acho que ele está beeeem longe disso, porém é um livro importante e que acrescenta MUITO; é como se depois de ler Ulysses você estivesse mais seguros como leitor e tivéssemos a certeza de que, a partir de agora, posso ler tudo o que eu quiser.

No meu caso, foram muitos os episódio que me fizeram pensar, mas algo que pensei muito e concordo com o tradutor Galindo é quando ele diz que Ulysses é como a vida: tem altos e baixos. Não é um livro linear, assim como os personagens não são totalmente certinhos o tempo todo. Na realidade, esses personagens são totalmente insuportáveis, mas nós os acompanhamos e, por várias vezes, me identifiquei e concordei com algumas discussões. O que não me deixou orgulhosa.

As relações são marcadas profundamente pela superficialidade, falsidade e mediocridade e, de certa maneira, nos faz pensar se nossas próprias relações cotidianas também não são assim. Conforme nos tornamos adultos, mais percebemos a diferença entre conviver e ter de fato laços profundos com determinadas pessoas. Sejamos sinceros, a cada aniversário mais as nossas relações tornam-se vazias e banais.

Agora, por que ler Ulysses? Vou falar por mim. Eu li, pois senti curiosidade e acho que quando se trata de livros, penso que o autor nos queria dizer e expressar algo. Sempre imagino ser um amigo e reservar aquele tempo para escutá-lo e entende-lo o mais profundo que podemos, pois assim que diferenciamos os bons amigos das relações vazias.

Antes de tudo, respeite seu tempo e leia quando você sentir que está preparado. É certo que não escolhemos os livros, eles que nos escolhem.

Aproveitem a leitura o máximo que permitirem e cuidado com as entrelinhas. Até a próxima resenha.


DIÁRIO DE LEITURA


Por ser uma obra desafiadora, fiz um diário de leitura de cada um dos episódios do livro para facilitar seu entendimento ao decorrer da obra. Dessa forma, aviso que, a partir de então, contém spoilers dos quais podem ajudá-los a uma leitura futura. Além disso, o que está aqui registrado peço a vocês para não considerarem uma crítica literária, mas apenas minhas impressões de leitura que foram feitas em tempo real, assim que eu terminava tais capítulos, o que formou um fluxo de consciência de minha parte, para me conectar ao livro. 

Ademais, acompanhei junto a uma playlist a qual encontra-se no Youtube, do canal “Literature-se”, com Mel Ferraz neste link: https://www.youtube.com/playlist?list=PLt4z0dMcJsCGxspfG-RopHG8r7pna4nuk  e uma conversa da editora Companhia das Letras com o tradutor dessa edição, Caetano Galindo: https://www.youtube.com/watch?v=pHZAlfKtNK4&t=958s. 

Sem mais delongas, bons estudos:

 

Introdução

Dia 21 de junho de 2020

Hoje li a primeira parte de Ulysses e o sentimento que sobrou foi o de que é um livro difícil, porém não impossível. A edição que estou lendo é a da Penguin Companhia e ao início da leitura há um esquema para nos situarmos na história. Essa primeira parte é formada por três partes importantes das quais detalharei logo abaixo, pois não fica exatamente claro durante a leitura:

(Colocar a foto do esquema)

PRIMEIRA PARTE

Telemaco

Esta é a parte que abre o livro. Acompanharemos a movimentação de três personagens: Stephen, Kinch e Buck Mullingan. Aparentemente, Stephen acabou de perder a mãe e por algum motivo, os comentários de todos é que ele é o responsável de a ter matado. O cenário quando eles ainda são jovens e aqui são tratadas referências como “Assim Falou Zaratustra”, de Nietzsche; Hamlet, de Shakeaspere e Oscar Wilde. Stephen apresenta sinais de melancolia e inteligência e eu gostei bastante desse personagem.

Nestor

Aqui passamos para anos depois, quando Stephen é um professor de história, aparentemente. O início do capítulo começa com um cenário de uma aula de história e observamos a interação de Stephen com seus alunos. Além disso, há a conversa de Stephen com o diretor dessa escola, onde acompanharemos a muitas referências em relação a história da Irlanda. Outrossim, algo importante de ser ressaltado que as memórias da mãe de Stephen o acompanham o tempo todo. A simbologia da mãe e o materno é algo muito forte nesta leitura, pelo menos por enquanto.

Proteu

Possivelmente, quando falam que abandonaram Ulysses, tenho certeza que foi por conta desse capítulo. Aqui temos o elemento fluxo de consciência junto a um monólogo interior em demasia, sendo até mesmo difícil entender o que realmente quer falar. De qualquer maneira, em grande resumo, esta parte trará os pensamentos de Stephen enquanto visita sua tia e tio, isso traz uma carga emotiva e um certo nervosismo do personagem o qual será visível na descrição desses, um deles, então, é a provável certeza de que seus tios estão pensando sobre ele ser culpado pela morte da mãe. Há a presença de um cachorro e um suposto afogamento, visto que o personagem está ambientado em uma praia. Mas sendo bem sincera, tive dificuldades na leitura dessa parte e tenho um pouco de medo de quem entendeu. HAHAHA

SEGUNDA PARTE

22 de julho de 2020

Calipso

Aqui nos será apresentado o personagem central do livro: Henry Bloom. Neste capítulo, que se passa às 8h da manhã, acompanharemos o início do dia de Bloom, do qual tiramos a conclusão de que ele tem uma gatinha e ele vai até o uma venda próxima comprar rins. Durante o trajeto de ida e volta adentramos em seus pensamentos a praticamente tudo e quase em momento real ao que se passa em sua cabeça: observações sobre as pessoas ao redor, devaneios e pensamentos totalmente aleatórios. Ao voltar para casa, esquenta os rins comprados e serve-se de uma bebida ( não me lembro se é chá)junto a sua esposa ( imagino) Marion Bloom.

Ambos iniciam uma conversa sobre o significado da palavra “Metempsicose” e Bloom passa a divagar sobre reencarnação.Eles estão se preparando para ir a um enterro. O capítulo foi muito bom e mesmo com os fluxos de consciência, é até mesmo tranqüilo de acompanhar.

Lotófagos

Eu ri muito neste capítulo. Aqui, temos mais mais um grande volume de fluxos de consciência, visto Bloom está a caminho de um enterro de uma pessoa chamada Dignam, mas percebemos que ele não tinha ligações afetivas profundas, ele apenas vai por conta de uma espécie de educação. Ao caminho, ele tem dois encontros que me fizeram muito rir. Um deles, com Mcoy e outro com Garnizé Lyons e em sua cabeça passam os seguintes pensamentos:

“Raspou o bigode de novo, Cacilda! Lábio comprido e frio o de cima. Pra parecer mais novo. Ficou foi com cara de doido. Mais novo do que eu.” Página 204, edição Penguin Companhia.

“Os dedos amarelos de unhaspretas do Garnizé Lyons desenrolaram o bastão. Precisa se lavar também . Tirar a sujeira mais grossa.” Página 204, edição Penguin Companhia.

23 de junho de 2020

Hades

Este foi uma passagem melancólica. Aqui, nós acompanhamos Bloom ainda em caminho ao enterro de Dignam, junto a outros dois Martin Cunningham e Simon Dedalus, pai de Stephen Dedalus. Aqui ocorrerão diversas discussões filosóficas acerca do tema morte como suicídio, visto que o pai de Bloom se suicidou com veneno e também a morte de seu filho, que morreu com ainda poucos dias de vida; a questão sobre o corpo humano, vida pós-morte dentre outros. A forma que é descrito é muito bonita e nos coloca realmente para pensar. O mais complicado é que atualmente estamos passando por uma pandemia e esse assunto trouxe pensamentos atualíssimas a respeito. A morte é inevitável e pensar nela também.

Em razão disso, o tema escolhido pelo autor para intitular esta passagem, Hades, tem relação com isso: o mundo dos mortos. Entretanto, o narrador deixa claro que o inferno tem um outro nome e ele se chama mundo.

24 de julho de 2020

Eólo     

O início desse capítulo acompanharemos Bloom em uma conversa com outros personagens a respeito de uma notícia de jornal a respeito do personagem que eles participaram do enterro. Neste momento presenciamos uma veemente crítica ao jornalismo e a mídia da época.

Aqui nós retomaremos com a figura de Stephen Dedalos que trabalha justamente no jornal em que Bloom e seus amigos estavam criticando. O cenário é marcado pela retórica e uma carga de referencias sobre a história da Irlandas. Não é um capítulo prazeroso.

Dia 27 de junho de 2020

Lestrigões

Esta foi uma parte em que acompanhamos o horário de almoço e todas as percepções que Bloom captura neste momento. Ele avista a irmã de Stephen Dedalos e passa a pensar a respeito disso. Importante observar que a vida de Stephen e de Bloom estão sempre juntas, mesmo que ambos nunca tenham feito um contato de fato. Ambos tem algo em comum: a paternidade conturbada. 

 Foi um capítulo muito bom, temos aqui os pensamentos do personagem associando a comida, a digestão, a mastigação, isto é, todos os processos alimentares, com a digestão de ideas e extraindo o máximo da anatomia para descrever tal situação.

Acompanhamos alguns pormenores, por exemplo, um certo ciúmes de Bloom para com sua esposa ( Calipso)e a parte mais comovente e que mais me indentifiquei com o personagem:

“Eu era mais feliz naquela época. Ou será que não era eu? Ou será que agora eu sou eu? Vinteoito abos eu tinha. Ela vintetrês quando a gente saiu da Lombard Street West alguma coisa mudou. Nunca mais consegui gostar depois do Rudy. Não dá pra fazer o tempo voltar atrás. Quem segurar água na mão.Você  voltaria àquele momento? Estava só começando. Voltaria? Você não está feliz, seu menininho levado? Quer pregar botões pra mim.” Pagina: 314. Edição da Penguin Companhia

Confesso que estou me apegando bastante ao Bloom. Gosto dele, embora eu admita que ele também não é formado totalmente de uma personalidade  boa, é bem irônico, cínico e até falso às vezes. Um Ser Humano.

Dia 26 de junho de 2020

Cíla e Caribdis

Neste episódio temos destaque para Stephen Dedalus e Buck. Ambos discutem sobre, basicamente, sobre Shakespeare. Aqui tem-se uma passagem em que acompanharemo Stephen fazendo uma crítica em relação a paternidade – lembrando que ele não tem uma relação saudável com seu pai.

“Amor Matris, genitivo subjetivo e objetivo, pode ser a única coisa verdadeira na vida. A paternidade pode ser uma ficção legal. Quem é o pai de qualquer filho qye qualquer filho deve amá-lo ou ele a qualquer filho?”.  Pagina: 367. Edição da Penguin Companhia

Stephen junto a Buck Mulligan, fazem parte de uma sociedade intelectual. Os intervalos em que ambos aparecem são repletos de conteúdo. Gosto de ambos, mas senti um pouco de falta de Bloom.

Dia 29 de junho de 2020

Rochedos Errantes

Este foi um dos capítulos que, até agora, mais gostei. Me fez lembrar bastante uma professora que tive na Disciplina Estudos Literários II, na faculdade, pois a narração nos leva ao cinematográfico, isto é, estão dispostos diversos fragmentos que nos mostram cada um dos personagens já citados em situações individuais ou separados um do outro e isso foi algo magnífico, pois nós leitores somos remetido a uma cena semelhante a um filme.

Como foram muitos, citarei apenas os casos mais impactantes ao meu ver:a vida humilde de Stephen Dedalus e o seu primeiro diálogo com sua irmã, Dilly, nos leva a entender que é uma família problmática, onde a cultura é censurada; temos a conversa do amigo de Stephen, Buck Mullingan, falando mal deles, o que nos faz perceber que ele não gostam tanto de Stephen; os comentários que achei um pouco cruéis a respeito da mulher de Bloom pelo olhar de seus amigos; o filho de Digham, morte que assombrará todo o livro, aparece.

Acho que em geral, o que me chamou mais atenção foi a questão da forma como as relações sociais aqui são mostradas de forma muito realista. Aquele que chamamos de amigo ou mesmo companheiros, apenas nos suportam.

Dia 2 de agosto de 2020

Sereias

Primeiramente, durante esses quatro dias que fiquei sem ler Ulysses, acreditem: senti saudades. Estou me apegando bastante a esses personagens, ainda não sei dizer se é por uma questão de identificação ou algo semelhante a isso, mas a questão é que senti muita falta de Leopold  Bloom.

Este capítulo intitulado sereias, tem em grande parte a razão de ser um episódio musical. Bem ao início, acompanhamos uma introdução que me fez sentir em concerto. As aulas de lingüística da faculdade me ajudaram bastante a chegar a essa conclusão: uso constantes de bilabiais e explosivas, dão esse efeito as narrativas.

O contexto se passa em um bar que, sinceramente, não entendi se Bloom está na mesma mesa que Simon Dedalus. Ao início, temos a movimentação de algumas garçonetes servindo chás e comentando a respeito da vida alheia ( Bloom). Mas a questão é que em um momento Dedalus canta naquele ambiente e todo enredo se passa as impressões mentais de Bloom a respeito daquela cena e também a respeito da música em geral.

O mais interessante neste capítulo é que percebemos o quando Bloom está triste e infeliz. Também o achei o capítulo beeeeem complexo, porém apenas leiam, sinto que esse livro tem partes que não são feitos para entender mesmo.

Dia 3 de agosto de 2020

Este foi o intervalo mais desafiador da minha vida. Não foi uma passagem fácil. Entretanto, minhas impressões foram as seguintes:o Bloom, por onde passa é alvo de falatórios e fofocas. Percebi que em grande parte do livro um aspecto principal é a questão das diversas imagens que personagem passa através dos olhos de outras pessoas e as conclusões não são das mais interessantes. Geralmente as pessoas são muito cruéis com ele, principalmente em razão do adultério de sua esposa e também a morte/suicídio de seu pai, comentadas aqui neste capítulo.

A minha impressão geral é que esse livro fala principalmente sobre a imagem que terceiros constroem de nós e o quão longe isso pode chegar.

Nausicaa

Esse foi um dos capítulos que mais entendi até o momento. O episódio nos apresentará Gerty MacDowell e logo ao seu início teremos uma descrição bem romantizada desta menina, da qual me lembrou os romances de Jane Austen, mas de uma maneira bem semelhante a uma tiração de sarro, como uma piada. Essa garota passa por um momento de troca de olhares com um homem e a partir desse momento, ela passa a descrever todo um futuro com esse sujeito e percebemos uma inocência até mesmo virginal dessa menina.

O grande susto desse capítulo é quando sabemos quem é esse homem:Leopold Bloom. E logo a arração volta-se para os fluxos de consciência de Bloom, cujo qual terá um ponto de vista totalmente diferente da garota.

Dia 4 de agosto de 2020

Gado ao sol

Esse foi o capítulo mais difícil até o momento. Leitura arrastada, mas percebemos que se trata de um ambiente de maternidade é um assunto central, pois a irmã de Stephen Dedalus e o capítulo é marcado por conversas muito desconexas, visto que esses médicos, entre eles Stephen Dédalos, está bêbado.

Além disso, diversas vezes somos resgatados pelos fluxos de Bloom e toda a sua lembrança e tristeza a respeito filho que morreu prematuramente.

Aqui, finalmente Stephen se encontra com Bloom.

Em resumo foi um capítulo muito difícil.

Circe

Este foi o capítulo mais difícil e chato porém um dos mais importantes da tragetória. Temos Stephen bêbado e Bloom muito receptivo com ele. Há muitas alucinações e dentre elas, Bloom vê seu filho e Stephen vê sua mãe.

TERCEIRA PARTE

Eumeu

Este foi, de longe, o capítulo mais lindo desse imenso livro. Estamos chegando ao final e sinto algo muito estranho, sinto que vou sentir falta tanto de Stephen, quanto de Bloom. De certa maneira, foram enormes companhias que tive a oportunidade de “conhecer” digamos assim. É como se eu estivesse me despedindo de daquelas pessoas que temos um contato muito casual, mas que criou confidencias profundas.

Aqui, Stephen e Bloom estão andando pelas ruas de Dublin e em alguns momentos eles param para conversar com outras pessoas. O mais interessante, é a forma como pela primeira vez vemos Bloom conversando com alguém e se sentindo a vontade, porque até então eu sentia que as relações de Bloom eram totalmente superficiais e percebíamos que ele não queria de fato estar lá.

Outro ponto para ser ressaltado é a questão das conversas entre ambos deixam claro o fato do conflito de gerações e os conselhos que Bloom dá para Stephen, como se fosse um pai que Stephen nunca teve e o filho que Bloom nunca terá.

Foi muito bonito esse episódio. Lembrei de muitas coisas sobre mim também, sobre a juventude e sobre a velhice que espera. Qual é o ponto da vida que nos reconhecemos em nossos pais?

Dia 9 de agosto de 2020

Itaca

O episodio é marcado com a aparência de uma entrevista, pois é como se Bloom estivesse sendo entrevistado ou como se um narrador estivesse entrevistando um narrador onisciente. Dessa maneira, foi o episódio em que vemos a interação muito forte entre Bloom e Stephen, onde Bloom fica finalmente sozinho e onde tiveram as citações mais bonitas do livro:

“ E voltar era a pior coisa que você podia fazer porque era desnecessário dizer que você se sentiria deslocado já que as coisas sempre se deslocavam com o tempo.” Pagina: 922. Edição da Penguin Companhia

“Seu humor?

Ele não havia arriscado, não teve expectativas, não havia sido desiludido, estava satisfeito.

O que o satisfazia?

Não ter sofrido qualquer perda positiva. Ter trazido um ganho positivo a outros. Luz aos gentios.” Página: 957. Edição da Penguin Companhia

 

Dia 10 de agosto de 2020

Penélope

Para minha surpresa, quem narra esse episódio é a Molly Bloom, isso mesmo, a mulher dele.

Durante todo o livro, nos conhecemos Molly através dos olhos não apenas de Bloom, mas também de todos ao redor. Os comentários que fazem sobre ela ao longo da narrativa sempre a descrevem como uma mulher adultera, aquela que trai Bloom e apenas isso. No entanto, neste capítulo, seremos levados a um monólogo interior da própria Molly, isto é, percebemos que ela não é exatamente tudo isso que as pessoas falam.

Antes de tudo, Molly explica sua relação com Bloom, sobre o filho deles que morreu, vemos que é uma personagem muito romântica, esperta, inteligente e triste, pois de certa maneira, sabe a respeito dos comentários.

O estilo que Joyce utilizou aqui foi a isenção de pontuação ( o que me lembrou muito Saramago) e parágrafos e monólogo interior, dos quais tornaram a leitura um pouco mais difícil a princípio, porém de fácil entendimento ao longo do enredo.

 

E assim, finalizamos esse livro !

 

Feliz ! ☺


Comentários

  1. Caraca!!! Nem sei o que dizer...
    Primeiro amei o post, adoro diários! hehehe
    Segundo, acho que vou demorar pra ler esse livro, não tenho coragem!
    Terceiro, como assim você foi ler logo na pandemia? Caramba!
    Quarto, Parabéns! Nem te conheço mas já te admiro por ter conseguido!
    Bjks

    ResponderExcluir
  2. AAAAAA que lindaaaa. Menina, esse livro ficou na minha estante por muito tempo, eu tinha muuuita vontade ler, porém tinha aquele receio, sabe?! Todo mundo falava: "esse livro é quase impossível". Porém, no tédio da quarentena eu disse: "é agora", e foi.

    Mas fique tranquila. Assim como ouvi em algum lugar: é apenas um livro com folhas, capítulos e tudo o mais. O final vale muuuuito a pena e a experiência de leitura é muito única.

    Obrigada pelo comentário e seja sempre muito bem-vinda !!!

    ResponderExcluir
  3. Ahhh, que legal! Adorei o diário de leitura ao final, com certeza vou dar uma passadinha aqui de novo quando terminar o Ulisses. Eu comentei com você na faculdade que eu tenho problemas com o Surrealismo, mas em contrapartida, destas técnicas modernas do século XX, eu acho os fluxos de consciência e monólogos interiores geniais. Estou em dívida com o resto do Ulisses, mas o capítulo da Molly Bloom... sem palavras para o James Joyce.
    Encarar o Ulisses é para poucos. Parabéns.
    Abraço.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas