Ulysses, de James Joyce
“E voltar
era a pior coisa que você podia fazer porque era desnecessário dizer que você
se sentiria deslocado já que as coisas sempre se deslocavam com o tempo”
“Ele não
havia arriscado, não teve expectativas, não havia sido desiludido, estava
satisfeito”
Finalmente, terminei de ler Ulysses, um dos livros mais temidos da literatura. Não é para menos.
Tudo começou no meu primeiro ano da faculdade de Letras, quando
estava esperando o ônibus de volta para casa e escutei a conversa entre dois
veteranos, dos quais falaram sobre Ulysses. A conversa era basicamente a
seguinte:
-Cara, você já leu Ulysses?
-Não
-Eu li nessas férias. É difícil, mas muito bom. Porém difícil.
-Ahn.
De qualquer maneira, esse garoto não sabe, mas ele me despertou
a vontade ler este livro e, naquele mesmo ano, o comprei. Depois disso, ele
ficou bons dois anos ocupando um enorme espaço em minha estante. Confesso,
tinha medo.
Em pleno tédio de uma tarde da quarentena, olhei minha estante e Ulysses estava lá, ele me olhou e correspondi ao olhar e, finalmente,
disse: agora é o momento de ler você. E foi o que fiz.
Foi uma leitura muito, mas muito repleta de altos e baixos. Momentos de intenso envolvimento, outros de
completo estafo e alguns de profunda melancolia. Se eu disser que foi fácil e
super prazeroso, estarei veementemente mentido para vocês e, digo mais, durante
muitos episódios quis desistir. Mas não o fiz.
Vamos, então ao enredo desse livro...
Enredo
Ulysses é praticamente uma parodização de Odisseia, de Homero.
Temos mais de mil páginas que nos relata um dia na vida de dois personagens:
Leopold Bloom e Stephen Dédalus, embora Bloom seja de longe o personagem
principal desta história, Stephen tem importância crucial.
Na minha edição há um esquema em uma tabela com algumas
informações de cada episódio que me ajudaram muito a interpretação durante a
leitura. Dessa forma, observamos que a história iniciará às oito horas da
manhã, durante o café da manhã de Bloom até às duas da madrugada, quando ele
finalmente vai dormir. Bom lembrar que Stephen e Leopold encontram-se bem depois no enredo,
pois por um longo tempo são apenas dois desconhecidos.
Durante esse dia, acontecem diversos acontecimentos que pareciam
até mesmo fofocas: Bloom tem um casamento frustrado com uma mulher chamada
Marion. Ela o trai com muitos homens e por todo o enredo somos levados a
comentários extremamente maldosos quanto a Bloom e a sua esposa (por vezes,
sentimos muito por ele). Ele tem uma filha e percebemos que ele tem dois
ressentimentos principais: a dor da morte prematura de seu filho e o suicídio
de seu pai. É, por fim, um personagem solitário, isto é, demasiado humano.
Esse percurso nos será apresentados incontáveis personagens,
alguns que terão seu momento apenas uma vez durante a história.
Linguagem
Um dos comentários que mais ouvimos sobre esse livro é de ser um livro muito difícil. Não vou desmentir.
Temos aqui uma construção de narrativa que, até então, nunca
tinha visto em nada lido por mim. É evidente que Joyce não queria facilitar a
vida de nenhum leitor, porém não podemos dizer que ficamos presos a uma rotina,
ao contrário: cada episódio/capítulo terá um estilo de escrita diferente, como
se fosse um livro praticamente experimental; alguns com parágrafos muuuuito
longos, outros em formato de teatro, fluxos de consciência, monólogo interior,
parodização de romances vitorianos, enfim, diversas formas diferentes de contar
a história.
Importante ressaltar: Ulysses tem uma linguagem que remete a
oralidade, lembrando que é um livro que se passa em boa parte nas ruas de
Dublin, então teremos muito a questão do coloquial e variedades linguística.
Referências
São DIVERSAS as referências que o livro apresenta,
especificamente quando Stephen Dédalus aparece, até porque ele tem essa personalidade intelectual. Portanto, deixarei abaixo uma
pequena lista dos livros os quais eu pude capturar nesta primeira leitura e podem ajuda-los no entendimento de algumas passagens:
-Muito Shakespeare, mas principalmente as obras Hamlet e A Tempestade;
-Odisseia, de Homero; porém não se prendam totalmente a isso;
-História da Irlanda que pesquisei por esse link da Wikipedia mesmo: https://bit.ly/32oMuxq
-Assim falou Zaratustra, de Nietzche;
- O retrato do artista quando jovem e Dublinenses, dele mesmo,
James Joyce; pois o Stephen Dédalus aparece em ambas as obras de Joyce, em que
no caso do primeiro, conhecemos sua infância e adolescência;
Porém, principalmente, Shakespeare.
Considerações
finais e por que ler Ulysses?
Não foi um livro que se tornou o meu preferido de minha vida e
acho que ele está beeeem longe disso, porém é um livro importante e que
acrescenta MUITO; é como se depois de ler Ulysses você estivesse mais seguros como leitor e tivéssemos a certeza de que, a partir de agora, posso ler tudo o que eu quiser.
No meu caso, foram muitos os episódio que me fizeram pensar, mas
algo que pensei muito e concordo com o tradutor Galindo é quando ele diz que
Ulysses é como a vida: tem altos e baixos. Não é um livro linear, assim como os
personagens não são totalmente certinhos o tempo todo. Na realidade,
esses personagens são totalmente insuportáveis, mas nós os acompanhamos e, por várias
vezes, me identifiquei e concordei com algumas discussões. O que não me deixou
orgulhosa.
As relações são marcadas profundamente pela superficialidade,
falsidade e mediocridade e, de certa maneira, nos faz pensar se nossas próprias relações cotidianas também não são assim. Conforme nos tornamos adultos, mais percebemos a
diferença entre conviver e ter de fato laços profundos com determinadas
pessoas. Sejamos sinceros, a cada aniversário mais as nossas relações
tornam-se vazias e banais.
Agora, por que ler Ulysses? Vou falar por mim. Eu li, pois senti
curiosidade e acho que quando se trata de livros, penso que o autor nos queria
dizer e expressar algo. Sempre imagino ser um amigo e reservar aquele tempo
para escutá-lo e entende-lo o mais profundo que podemos, pois assim que
diferenciamos os bons amigos das relações vazias.
Antes de tudo, respeite seu tempo e leia quando você sentir que
está preparado. É certo que não escolhemos os livros, eles que nos escolhem.
Aproveitem a leitura o máximo que permitirem e cuidado com as
entrelinhas. Até a próxima resenha.
DIÁRIO DE LEITURA
Por ser uma obra desafiadora, fiz um diário de leitura de cada um dos episódios do livro para facilitar seu entendimento ao decorrer da obra. Dessa forma, aviso que, a partir de então, contém spoilers dos quais podem ajudá-los a uma leitura futura. Além disso, o que está aqui registrado peço a vocês para não considerarem uma crítica literária, mas apenas minhas impressões de leitura que foram feitas em tempo real, assim que eu terminava tais capítulos, o que formou um fluxo de consciência de minha parte, para me conectar ao livro.
Ademais, acompanhei junto a uma playlist a qual encontra-se no Youtube, do canal “Literature-se”, com Mel Ferraz neste link: https://www.youtube.com/playlist?list=PLt4z0dMcJsCGxspfG-RopHG8r7pna4nuk e uma conversa da editora Companhia das Letras com o tradutor dessa edição, Caetano Galindo: https://www.youtube.com/watch?v=pHZAlfKtNK4&t=958s.
Sem mais delongas, bons estudos:
Introdução
Dia
21 de junho de 2020
Hoje li a primeira parte de Ulysses e o sentimento que sobrou
foi o de que é um livro difícil, porém não impossível. A edição que estou lendo
é a da Penguin Companhia e ao início da leitura há um esquema para nos
situarmos na história. Essa primeira parte é formada por três partes
importantes das quais detalharei logo abaixo, pois não fica exatamente claro
durante a leitura:
(Colocar a foto do esquema)
PRIMEIRA
PARTE
Telemaco
Esta é a parte que abre o livro. Acompanharemos a movimentação
de três personagens: Stephen, Kinch e Buck Mullingan. Aparentemente, Stephen
acabou de perder a mãe e por algum motivo, os comentários de todos é que ele é
o responsável de a ter matado. O cenário quando eles ainda são jovens e
aqui são tratadas referências como “Assim Falou Zaratustra”, de Nietzsche;
Hamlet, de Shakeaspere e Oscar Wilde. Stephen apresenta sinais de melancolia e
inteligência e eu gostei bastante desse personagem.
Nestor
Aqui passamos para anos depois, quando Stephen é um professor de
história, aparentemente. O início do capítulo começa com um cenário de uma aula
de história e observamos a interação de Stephen com seus alunos. Além disso, há
a conversa de Stephen com o diretor dessa escola, onde acompanharemos a muitas
referências em relação a história da Irlanda. Outrossim, algo importante de ser
ressaltado que as memórias da mãe de Stephen o acompanham o tempo todo. A
simbologia da mãe e o materno é algo muito forte nesta leitura, pelo menos por
enquanto.
Proteu
Possivelmente, quando falam que abandonaram Ulysses, tenho
certeza que foi por conta desse capítulo. Aqui temos o elemento fluxo de
consciência junto a um monólogo interior em demasia, sendo até mesmo difícil
entender o que realmente quer falar. De qualquer maneira, em grande resumo,
esta parte trará os pensamentos de Stephen enquanto visita sua tia e tio, isso
traz uma carga emotiva e um certo nervosismo do personagem o qual será visível na
descrição desses, um deles, então, é a provável certeza de que seus tios estão
pensando sobre ele ser culpado pela morte da mãe. Há a presença de um cachorro
e um suposto afogamento, visto que o personagem está ambientado em uma praia. Mas
sendo bem sincera, tive dificuldades na leitura dessa parte e tenho um pouco de
medo de quem entendeu. HAHAHA
SEGUNDA
PARTE
22
de julho de 2020
Calipso
Aqui nos será apresentado o personagem central do livro: Henry
Bloom. Neste capítulo, que se passa às 8h da manhã, acompanharemos o início do
dia de Bloom, do qual tiramos a conclusão de que ele tem uma gatinha e ele vai
até o uma venda próxima comprar rins. Durante o trajeto de ida e volta
adentramos em seus pensamentos a praticamente tudo e quase em momento real ao
que se passa em sua cabeça: observações sobre as pessoas ao redor, devaneios e
pensamentos totalmente aleatórios. Ao voltar para casa, esquenta os rins
comprados e serve-se de uma bebida ( não me lembro se é chá)junto a sua esposa
( imagino) Marion Bloom.
Ambos iniciam uma conversa sobre o significado da palavra
“Metempsicose” e Bloom passa a divagar sobre reencarnação.Eles estão se
preparando para ir a um enterro. O capítulo foi muito bom e mesmo com os fluxos
de consciência, é até mesmo tranqüilo de acompanhar.
Lotófagos
Eu ri muito neste capítulo. Aqui, temos mais mais um grande
volume de fluxos de consciência, visto Bloom está a caminho de um enterro de
uma pessoa chamada Dignam, mas percebemos que ele não tinha ligações afetivas
profundas, ele apenas vai por conta de uma espécie de educação. Ao caminho, ele
tem dois encontros que me fizeram muito rir. Um deles, com Mcoy e outro com
Garnizé Lyons e em sua cabeça passam os seguintes pensamentos:
“Raspou o bigode de novo,
Cacilda! Lábio comprido e frio o de cima. Pra parecer mais novo. Ficou foi com
cara de doido. Mais novo do que eu.” Página 204, edição Penguin Companhia.
“Os dedos amarelos de
unhaspretas do Garnizé Lyons desenrolaram o bastão. Precisa se lavar também .
Tirar a sujeira mais grossa.” Página 204, edição Penguin Companhia.
23
de junho de 2020
Hades
Este foi uma passagem melancólica. Aqui, nós acompanhamos Bloom
ainda em caminho ao enterro de Dignam, junto a outros dois Martin Cunningham e
Simon Dedalus, pai de Stephen Dedalus. Aqui ocorrerão diversas discussões
filosóficas acerca do tema morte como suicídio, visto que o pai de Bloom se
suicidou com veneno e também a morte de seu filho, que morreu com ainda poucos
dias de vida; a questão sobre o corpo humano, vida pós-morte dentre outros. A
forma que é descrito é muito bonita e nos coloca realmente para pensar. O mais
complicado é que atualmente estamos passando por uma pandemia e esse assunto
trouxe pensamentos atualíssimas a respeito. A morte é inevitável e pensar nela
também.
Em razão disso, o tema escolhido pelo autor para intitular esta
passagem, Hades, tem relação com isso: o mundo dos mortos. Entretanto, o
narrador deixa claro que o inferno tem um outro nome e ele se chama mundo.
24
de julho de 2020
Eólo
O início desse capítulo
acompanharemos Bloom em uma conversa com outros personagens a respeito de uma
notícia de jornal a respeito do personagem que eles participaram do enterro.
Neste momento presenciamos uma veemente crítica ao jornalismo e a mídia da
época.
Aqui nós retomaremos com a figura de Stephen Dedalos que
trabalha justamente no jornal em que Bloom e seus amigos estavam criticando. O
cenário é marcado pela retórica e uma carga de referencias sobre a história da
Irlandas. Não é um capítulo prazeroso.
Dia
27 de junho de 2020
Lestrigões
Esta foi uma parte em que acompanhamos o horário de almoço e
todas as percepções que Bloom captura neste momento. Ele avista a irmã de
Stephen Dedalos e passa a pensar a respeito disso. Importante observar que a
vida de Stephen e de Bloom estão sempre juntas, mesmo que ambos nunca tenham
feito um contato de fato. Ambos tem algo em comum: a paternidade
conturbada.
Foi um capítulo muito
bom, temos aqui os pensamentos do personagem associando a comida, a digestão, a
mastigação, isto é, todos os processos alimentares, com a digestão de ideas e
extraindo o máximo da anatomia para descrever tal situação.
Acompanhamos alguns pormenores, por exemplo, um certo ciúmes de
Bloom para com sua esposa ( Calipso)e a parte mais comovente e que mais me
indentifiquei com o personagem:
“Eu era mais feliz naquela
época. Ou será que não era eu? Ou será que agora eu sou eu? Vinteoito abos eu
tinha. Ela vintetrês quando a gente saiu da Lombard Street West alguma coisa
mudou. Nunca mais consegui gostar depois do Rudy. Não dá pra fazer o tempo
voltar atrás. Quem segurar água na mão.Você
voltaria àquele momento? Estava só começando. Voltaria? Você não está
feliz, seu menininho levado? Quer pregar botões pra mim.” Pagina: 314. Edição
da Penguin Companhia
Confesso que estou me apegando bastante ao Bloom. Gosto dele,
embora eu admita que ele também não é formado totalmente de uma
personalidade boa, é bem irônico, cínico
e até falso às vezes. Um Ser Humano.
Dia
26 de junho de 2020
Cíla e
Caribdis
Neste episódio temos destaque para Stephen Dedalus e Buck. Ambos
discutem sobre, basicamente, sobre Shakespeare. Aqui tem-se uma passagem em que
acompanharemo Stephen fazendo uma crítica em relação a paternidade – lembrando
que ele não tem uma relação saudável com seu pai.
“Amor Matris, genitivo subjetivo e objetivo, pode ser a única
coisa verdadeira na vida. A paternidade pode ser uma ficção legal. Quem é o pai
de qualquer filho qye qualquer filho deve amá-lo ou ele a qualquer
filho?”. Pagina: 367. Edição da Penguin
Companhia
Stephen junto a Buck Mulligan, fazem parte de uma sociedade
intelectual. Os intervalos em que ambos aparecem são repletos de conteúdo. Gosto
de ambos, mas senti um pouco de falta de Bloom.
Dia
29 de junho de 2020
Rochedos
Errantes
Este foi um dos capítulos que, até agora, mais gostei. Me fez
lembrar bastante uma professora que tive na Disciplina Estudos Literários II,
na faculdade, pois a narração nos leva ao cinematográfico, isto é, estão
dispostos diversos fragmentos que nos mostram cada um dos personagens já
citados em situações individuais ou separados um do outro e isso foi algo
magnífico, pois nós leitores somos remetido a uma cena semelhante a um filme.
Como foram muitos, citarei apenas os casos mais impactantes ao
meu ver:a vida humilde de Stephen Dedalus e o seu primeiro diálogo com sua
irmã, Dilly, nos leva a entender que é uma família problmática, onde a cultura
é censurada; temos a conversa do amigo de Stephen, Buck Mullingan, falando mal
deles, o que nos faz perceber que ele não gostam tanto de Stephen; os
comentários que achei um pouco cruéis a respeito da mulher de Bloom pelo olhar
de seus amigos; o filho de Digham, morte que assombrará todo o livro, aparece.
Acho que em geral, o que me chamou mais atenção foi a questão da
forma como as relações sociais aqui são mostradas de forma muito realista.
Aquele que chamamos de amigo ou mesmo companheiros, apenas nos suportam.
Dia
2 de agosto de 2020
Sereias
Primeiramente, durante esses quatro dias que fiquei sem ler
Ulysses, acreditem: senti saudades. Estou me apegando bastante a esses
personagens, ainda não sei dizer se é por uma questão de identificação ou algo
semelhante a isso, mas a questão é que senti muita falta de Leopold Bloom.
Este capítulo intitulado sereias, tem em grande parte a razão de
ser um episódio musical. Bem ao início, acompanhamos uma introdução que me fez
sentir em concerto. As aulas de lingüística da faculdade me ajudaram bastante a
chegar a essa conclusão: uso constantes de bilabiais e explosivas, dão esse
efeito as narrativas.
O contexto se passa em um bar que, sinceramente, não entendi se
Bloom está na mesma mesa que Simon Dedalus. Ao início, temos a movimentação de
algumas garçonetes servindo chás e comentando a respeito da vida alheia (
Bloom). Mas a questão é que em um momento Dedalus canta naquele ambiente e todo
enredo se passa as impressões mentais de Bloom a respeito daquela cena e também
a respeito da música em geral.
O mais interessante neste capítulo é que percebemos o quando
Bloom está triste e infeliz. Também o achei o capítulo beeeeem complexo, porém
apenas leiam, sinto que esse livro tem partes que não são feitos para entender
mesmo.
Dia
3 de agosto de 2020
Este foi o intervalo mais desafiador da minha vida. Não foi uma
passagem fácil. Entretanto, minhas impressões foram as seguintes:o Bloom, por
onde passa é alvo de falatórios e fofocas. Percebi que em grande parte do livro
um aspecto principal é a questão das diversas imagens que personagem passa
através dos olhos de outras pessoas e as conclusões não são das mais
interessantes. Geralmente as pessoas são muito cruéis com ele, principalmente
em razão do adultério de sua esposa e também a morte/suicídio de seu pai,
comentadas aqui neste capítulo.
A minha impressão geral é que esse livro fala principalmente
sobre a imagem que terceiros constroem de nós e o quão longe isso pode chegar.
Nausicaa
Esse foi um dos capítulos que mais entendi até o momento. O
episódio nos apresentará Gerty MacDowell e logo ao seu início teremos uma
descrição bem romantizada desta menina, da qual me lembrou os romances de Jane
Austen, mas de uma maneira bem semelhante a uma tiração de sarro, como uma
piada. Essa garota passa por um momento de troca de olhares com um homem e a
partir desse momento, ela passa a descrever todo um futuro com esse sujeito e
percebemos uma inocência até mesmo virginal dessa menina.
O grande susto desse capítulo é quando sabemos quem é esse
homem:Leopold Bloom. E logo a arração volta-se para os fluxos de consciência de
Bloom, cujo qual terá um ponto de vista totalmente diferente da garota.
Dia
4 de agosto de 2020
Gado ao sol
Esse foi o capítulo mais difícil até o momento. Leitura
arrastada, mas percebemos que se trata de um ambiente de maternidade é um
assunto central, pois a irmã de Stephen Dedalus e o capítulo é marcado por
conversas muito desconexas, visto que esses médicos, entre eles Stephen
Dédalos, está bêbado.
Além disso, diversas vezes somos resgatados pelos fluxos de Bloom
e toda a sua lembrança e tristeza a respeito filho que morreu prematuramente.
Aqui, finalmente Stephen se encontra com Bloom.
Em resumo foi um capítulo muito difícil.
Circe
Este foi o capítulo mais difícil e chato porém um dos mais
importantes da tragetória. Temos Stephen bêbado e Bloom muito receptivo com
ele. Há muitas alucinações e dentre elas, Bloom vê seu filho e Stephen vê sua
mãe.
TERCEIRA
PARTE
Eumeu
Este foi, de longe, o capítulo mais lindo desse imenso livro.
Estamos chegando ao final e sinto algo muito estranho, sinto que vou sentir
falta tanto de Stephen, quanto de Bloom. De certa maneira, foram enormes
companhias que tive a oportunidade de “conhecer” digamos assim. É como se eu
estivesse me despedindo de daquelas pessoas que temos um contato muito casual,
mas que criou confidencias profundas.
Aqui, Stephen e Bloom estão andando pelas ruas de Dublin e em
alguns momentos eles param para conversar com outras pessoas. O mais
interessante, é a forma como pela primeira vez vemos Bloom conversando com
alguém e se sentindo a vontade, porque até então eu sentia que as relações de
Bloom eram totalmente superficiais e percebíamos que ele não queria de fato estar
lá.
Outro ponto para ser ressaltado é a questão das conversas entre
ambos deixam claro o fato do conflito de gerações e os conselhos que Bloom dá
para Stephen, como se fosse um pai que Stephen nunca teve e o filho que Bloom
nunca terá.
Foi muito bonito esse episódio. Lembrei de muitas coisas sobre
mim também, sobre a juventude e sobre a velhice que espera. Qual é o ponto da
vida que nos reconhecemos em nossos pais?
Dia
9 de agosto de 2020
Itaca
O episodio é marcado com a aparência de uma entrevista, pois é
como se Bloom estivesse sendo entrevistado ou como se um narrador estivesse
entrevistando um narrador onisciente. Dessa maneira, foi o episódio em que
vemos a interação muito forte entre Bloom e Stephen, onde Bloom fica finalmente
sozinho e onde tiveram as citações mais bonitas do livro:
“ E voltar era a pior coisa
que você podia fazer porque era desnecessário dizer que você se sentiria
deslocado já que as coisas sempre se deslocavam com o tempo.” Pagina: 922.
Edição da Penguin Companhia
“Seu humor?
Ele não havia arriscado, não teve expectativas,
não havia sido desiludido, estava satisfeito.
O que o satisfazia?
Não ter sofrido qualquer perda positiva. Ter trazido um ganho positivo a outros. Luz aos gentios.” Página: 957. Edição da Penguin Companhia
Dia
10 de agosto de 2020
Penélope
Para minha surpresa, quem narra esse episódio é a Molly Bloom,
isso mesmo, a mulher dele.
Durante todo o livro, nos conhecemos Molly através dos olhos não
apenas de Bloom, mas também de todos ao redor. Os comentários que fazem sobre
ela ao longo da narrativa sempre a descrevem como uma mulher adultera, aquela
que trai Bloom e apenas isso. No entanto, neste capítulo, seremos levados a um
monólogo interior da própria Molly, isto é, percebemos que ela não é exatamente
tudo isso que as pessoas falam.
Antes de tudo, Molly explica sua relação com Bloom, sobre o
filho deles que morreu, vemos que é uma personagem muito romântica, esperta,
inteligente e triste, pois de certa maneira, sabe a respeito dos comentários.
O estilo que Joyce utilizou aqui foi a isenção de pontuação ( o
que me lembrou muito Saramago) e parágrafos e monólogo interior, dos quais
tornaram a leitura um pouco mais difícil a princípio, porém de fácil
entendimento ao longo do enredo.
E assim, finalizamos esse livro !
Feliz ! ☺
Caraca!!! Nem sei o que dizer...
ResponderExcluirPrimeiro amei o post, adoro diários! hehehe
Segundo, acho que vou demorar pra ler esse livro, não tenho coragem!
Terceiro, como assim você foi ler logo na pandemia? Caramba!
Quarto, Parabéns! Nem te conheço mas já te admiro por ter conseguido!
Bjks
AAAAAA que lindaaaa. Menina, esse livro ficou na minha estante por muito tempo, eu tinha muuuita vontade ler, porém tinha aquele receio, sabe?! Todo mundo falava: "esse livro é quase impossível". Porém, no tédio da quarentena eu disse: "é agora", e foi.
ResponderExcluirMas fique tranquila. Assim como ouvi em algum lugar: é apenas um livro com folhas, capítulos e tudo o mais. O final vale muuuuito a pena e a experiência de leitura é muito única.
Obrigada pelo comentário e seja sempre muito bem-vinda !!!
Ahhh, que legal! Adorei o diário de leitura ao final, com certeza vou dar uma passadinha aqui de novo quando terminar o Ulisses. Eu comentei com você na faculdade que eu tenho problemas com o Surrealismo, mas em contrapartida, destas técnicas modernas do século XX, eu acho os fluxos de consciência e monólogos interiores geniais. Estou em dívida com o resto do Ulisses, mas o capítulo da Molly Bloom... sem palavras para o James Joyce.
ResponderExcluirEncarar o Ulisses é para poucos. Parabéns.
Abraço.