O estranho caso do cachorro morto, de Mark Haddon

“E então pensei que eu tinha de ser que nem Sherlock Holmes e isolar minha mente por vontade própria a um grau admirável”

Livro publicado em 2003, tornou-se uma importante referência sobre o autismo, em específico a Síndrome de Asperger, assunto o qual ainda é um pouco difícil encontrar na literatura em geral.

A história é narrada em primeira pessoa por Christopher Boone, em que acompanharemos sua rotina diante do transtorno a partir do seu ponto de vista. Apesar de ele ir a escola e ter uma vida praticamente normal, algumas atitudes serão fundamentais para o entender:

 

“Estes são alguns dos meus problemas comportamentais:

A.Deixar de conversar com pessoas por um longo tempo;

B. Deixar de comer e de beber qualquer coisa por um longo tempo;

C.Não gostar de ser tocado;

D. Gritar quando fico zangado ou confuso;

E.Não gostar de ficar em lugares muito pequenos com outras pessoas;

F.Despedaçar coisas quando estou zangado ou confuso;

G.Gemer;

H. Não gostar de coisas amarelas ou marrons e me recusar a tocar em coisas amarelas ou marrons;

I. Recusar a usar minha escova de dentes se alguém mais tocar nela;

J.Não comer se diferentes tipos de comida ficam se tocando;

K.Não perceber quando as pessoas ficam zangadas comigo;

L.Não sorrir;

M.Dizer coisas que outras pessoas pensam que são rudes;

N.Fazer coisas estúpidas;

O.Socar as pessoas;

P.Odiar a França;

Q.Dirigir o carro da mãe;

R.Ficar perturbado quando alguém muda a mobília de lugar.”

(Editora Record. Página 70 e 71)

 

Outras características encontradas no livro são: conseguir ficar dias e dias sem conversar com ninguém, mente lógica e com facilidade para números, dificuldades em entender metáforas e expressões faciais.

A partir disso, conheceremos também a sua família, constituída de pai e mãe, dos quais percebemos não entenderem a personalidade do garoto. Porém, o ápice do enredo é quando, em um dado momento, um cachorro de sua vizinha é assassinado, fato o qual fará Christopher ultrapassar seus limites e barreiras para desvendar o mistério.

O livro me surpreendeu positivamente, porque não imaginava gostar tanto. A minha dica é você lê-lo sem saber do que se trata, pois são diversos os plot twists que serão encontrados. Além disso, em termos de escrita, foi tranquila, fluída e sem dificuldades. Entretanto, em alguns momentos, nos deparamos com a realidade e sofrimentos de Christopher, pois de certa maneira, o assunto Autismo ainda é pouco discutida, o que causa uma certa desinformação a respeito e isso fica claro durante a leitura. A forma como o personagem é tratado, principalmente pelos seus pais, mostra o peso de um assunto não ser devidamente discutido. E isso, apesar de ser simples, não é fácil de seguir. É só olharmos ao nosso redor: a mais sutil das regras torna-se mais difíceis do que uma prova de álgebra, caso não haja a consciência de coletividade.

Leitura necessária. 

Cuidado com as entrelinhas e até a próxima resenha.