O beijo da mulher Aranha, de Manuel Puig

 



“E fugir da realidade pode ser um vício, é como uma droga. Porque escuta, tua realidade, tua realidade, não é somente esta cela. Se você está lendo alguma coisa, estudando alguma coisa, já transcende a cela, entende? Por isso é que eu leio e estudo o dia todo.”


 

Provavelmente, um dia você sentiu-se sozinho. Acordou, foi trabalhar, olhou ao redor, questionou e, de repente, a música Are You Sure, de Willie Nelson nunca tenha feito tanto sentido, pelo menos por aquele momento. Isso o deixa triste, mas conclui que é tudo uma grande bobagem e esquece tal pensamento. Porém essa sensação retorna dias, meses, até anos, enquanto os cabelos crescem e a pele enruga.

Neste livro acompanharemos dois personagens imperfeitos, Valentin e Molina. Ambos estão em uma cela de prisão, por motivos distintos: Valentin, questões políticas e Molina, corrupção de menores. Para passarem o tempo, recontam histórias variadas, geralmente tiradas de filmes que assistiram. Dessa maneira, apesar da situação precária e nada convencional, acompanhamos o nascimento de uma amizade construída através de muuuitos diálogos simples, mas ao mesmo tempo profundos, repletos de referências, confissões, conselhos e sentimentalismos. O final, no entanto, é formado por uma enorme surpresa, pois desenrola-se de uma maneira não explícita e, até mesmo, brincando com o psicológico do leitor.

O adjetivo que posso classificar este livro é bonito. Uma narrativa em que encontramos duas pessoas diferentes entre si, formam uma relação que, se tivermos sorte, poderemos viver um dia. O enredo é repleto de simbologias, assim como geralmente encontrada na literatura argentina: a questão do estômago de Valentin o qual passa por momento de extrema dor e o cuidado quase maternal de Molina e também ao próprio título, por exemplo.

Foi uma leitura diferente, mas principalmente, é um enredo que nos apresentará conselhos. Alguns deles até mesmo, posso dizer, mudaram alguns aspectos de minha vida, o qual pretendo seguir adiante, como uma espécie de conforto. Ademais, é um livro que traz, antes de tudo, a esperança de que não estamos sozinhos, que somos suficientes mesmo sendo insuficientes e que apenas não encontramos pessoas a nos deixar acolhidos os suficientes para chamarmos de amigos. “Watch out, the world’s behind you, there’s always someone around you who will call”, já dizia Lou Reed.

A adaptação cinematográfica recebe título homônimo e foi direcionada por Héctor Babenco, em 1985, obra a qual  ganhou um Oscar de Melhor Ator.

Cuidado com as entrelinhas e até a próxima resenha.










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