Viagem ao redor do meu quarto, Xavier de Maistre


 “Não procure outras pessoas no espelho”

Variações sobre um mesmo tema, música de Engenheiros do Hawaii


Esta edição foi publicada em 2020, temporada pandêmica mundial, o que torna a situação bastante irônica. Apesar de ser catalogado como “Ficção Francesa”, o livro apresenta traços bastante autobiográficos, visto que o próprio autor o escreveu após ser condenado a 42 dias de reclusão, em razão de uma briga no período carnavalesco francês. 


O enredo inicia-se com um tom mais leve e hilário, pois o autor “tira sarro” de sua própria condição e peripécias. No entanto, conforme os dias passam, os relatos passam a se tornar mais melancólicos, acompanhados pela filosofia, lembranças de amigos e namoradas, observações atentas (até demais) dos objetos de seu quarto, longos períodos observando o espelho, sensação de enlouquecimento e perda de si mesmo através dos próprios pensamentos, até porque, assim como descrito por ele mesmo, o espelho é o único que nos mostram a verdade (MAISTRE, P.41). 


Os pontos mais impactantes do livro foram, sem dúvida, a descrição e lembranças do personagem frente a morte de um amigo na guerra (entre a página 34 e 35 desta edição), no qual se mostra, pela primeira vez, completamente sensível ao leitor. Além disso, depois de percorrer por todos os objetos do quarto, ele finalmente analisa aquele que mais temia: o espelho. 


Por fim, é um livro com diversas nuances entre o hilário, filosófico, pessimismo, saudades, amizade, guerras e confinamento. Ao estar no mundo afora, não se tem tempo para a alta-percepção, pois você É o objeto de percepção… dos outros e, em alguns casos, pessoas se perdem na visão que os OUTROS têm de si. Porém, ao estar sozinho é quando você percebe quem é você PARA você… e isso pode ser enlouquecedor.


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