Esaú e Jacó, de Machado de Assis

 


“Enquanto os meses passam, faze de conta que estás no teatro, entre um ato e outro, conversando. Lá dentro preparam a cena, e os artistas mudam de roupa.”


Livro lançado em 1904, penúltima narrativa do autor e o primeiro que nos apresentará o personagem Conselheiro Aires, o qual será o narrador observador durante uma parte da história. Aires será principal no último e nono romance de Machado, “Memorial de Aires”.

Antes de começar a resenha, temos que saber quem foi Esaú e Jacó na Bíblia.


Esaú e Jacó (dados bíblicos)

Os personagens serão citados no livro de Gênesis, são irmãos gêmeos e filhos de Isaac e Rebeca. O filho primogênito na bíblia, em geral, sempre teve regalias e direitos exclusivos, desta maneira, apesar de serem gêmeos, Esaú foi privilegiado, visto que foi o primeiro a sair do ventre de sua mãe.

Mas, temos um porém, porque Jacó era o preferido da mãe e quando há o ritual de passagem para passar tais direitos, Rebeca aproveita-se da cegueira de Isaac para que seu querido seja abençoado. Tal acontecimento provocará mais a frente rivalidade entre os gêmeos.

A referência a narrativa é também encontrada no seriado LOST, quando a mãe de Jacob (Jacó em inglês) o batiza deste nome. Para quem já assistiu a série, sabe que ele, assim como o Jacó bíblico, é o preferido de sua mãe. O seu gêmeo, no entanto, não recebe um nome, sendo chamado constantemente de “Homem de Preto” durante a série, o que (olha só)podemos interpretar que ele seria o Esaú. Nesse enredo, os dois irmãos também não são o exemplo de uma união fraterna.


O Esaú e Jacó, de Machado de Assis

A narrativa de Machado de Assis nos apresentará Natividade, ela casa-se com Santos e está grávida de gêmeos. Junto a Petúnia,sua criada,  vão até ao que é chamada apenas de “Mulher do Castelo, cuja qual tem a função de ler o futuro das crianças. Esse futuro é revelado e não agrada a Natividade, que já percebe que ambos já desentende-se em seu ventre.Logo após, acompanhamos o desenvolvimento dos gêmeos, Pedro e Paulo ( surpresa! Eles não se chamam Esaú e Jacó). Ambos tem personalidades diferentes e isso fica mais evidente quando surge uma moça neste ínterim. 

Importante ressaltar o contexto histórico desta narrativa, em que o Brasil passava uma transição do império para a República e tal oposição é demarcada com os irmãos, que defendem também opiniões políticas opostas. Para Hélio Guimarães, especialista em Machado de Assis, diz:

“Num outro nível de alegoria, Pedro e Paulo, que vivem a transição do Império à República, encarnam também a oposição entre os regimes. Um é monarquista, identificado desde o nome com d. Pedro II; o outro, republicano roxo, leva o nome de São Paulo, um dos centro irradiadores das ideias e do movimento republicano, onde ele freqüentou a famosa Faculdade de Direito”

(Introdução: Um romance em abismo, por Hélio Guimarães. Editora Penguin, edição de 2012, página 16.)

 

“Essa oposição política, que diz respeito ao momento histórico em que o romance se situa, desdobra-se em várias outras. Há o episódio em que os gêmeos, sempre em oposição, encantam-se pelas figuras inimigas de Robespierre e Luís XVI, associando de maneira jocosa o conflito do presente brasileiros às lutas sanguinárias da Revolução Francesa”

(Introdução: Um romance em abismo, por Hélio Guimarães. Editora Penguin, edição de 2012, página 16.)

 

Além da questão bíblica ser eventualmente citada durante a história, são diversas as referências de clássicos da literatura como Ulysses, de Homero; Dante Alighieri, Goethe dentre outros.

O livro traz um Machado com suas ironias e conversas com o leitor constantes, porém a impressão passada é de um escritor mais sentimental, menos caçoador  e realista o qual o conhecemos em obras como Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro, por exemplo. Talvez, um leitor acostumado a essas narrativas possa se sentir, digamos, entediado ou tentando desvendar esse Machado de Esaú e Jacó. É um livro que pode ser facilmente comparado ao romance contemporâneo Dois Irmãos, de Milton Hatoum, já resenhado no blog.

Até a próxima resenha e cuidado  com as entrelinhas

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