Água Viva, de Clarice Lispector

 


“Quando penso no que já vivi me parece que fui deixando meus corpos pelos caminhos”

“Penso que agora terei que pedir licença para morrer um pouco. Com licença – sim? Não demoro. Obrigada.”

“Oh, como tudo é incerto. E no entanto dentro da Ordem”.


Publicado em 1973, considerado um romance psicológico e um dos mais profundos da autora.   

Não há uma narrativa linear, mas sim encontraremos algo parecido a uma carta ou uma página de  diário, escrita por uma mulher. Não sabemos qual o remetente desta carta, mas percebe-se que é para um homem ou alguém que ela tenha relações amorosas o qual não a faz sentir à vontade o bastante para expor seus sentimentos.


“Eu sou antes, eu sou quase, eu sou nunca. E tudo isso é o que ganhei ao deixar de te amar.“

P. 18. Editora Rocco

 

“Hoje é domingo de manhã. Neste domingo de sol e de Júpiter estou sozinha em casa. Dobrei-me de repente em dois e para a frente como em profunda dor de parto – e vi que a menina em mim morria. Nunca esquecerei este domingo sangrento. Para cicatrizar leva tempo. E eis-me aqui dura e silenciosa e heróica. Sem menina dentro de mim. Todas as vidas são vidas heroicas”

P. 66. Editora Rocco

 

“O que estraga a felicidade é o medo.”

P. 66. Editora Rocco

 

“Que silêncio. ‘Deus’ é de um tal enorme silêncio que me aterroriza”

P. 85. Editora Rocco

 

“ Não vou morrer, ouviu, Deus? Não tenho coragem, ouviu? Não me mate, ouviu? Porque é uma infâmia nascer para morrer não se sabe quando nem onde. Vou ficar muito alegra, ouviu? Como resposta, como insulto. Uma coisa eu garanto: nós não somos culpados. E preciso entender enquanto estou viva, ouviu? Porque depois, será tarde demais. “

P. 94. Editora Rocco

  

Dessa maneira, tais sentimentos são colocados sob de fluxo de consciência e pensamentos. Serão abordados temas como o nascimento, tempo, a morte, conversas e confrontos com Deus, universo e natureza. Apesar de, a princípio, parecer não ter sentido ou ordem, os devaneios são aprofundados de tal modo a percebermos maior clareza e paz da personagem conforme tudo se passa.

Não apenas esse livro, mas em todos os livros de Clarice lidos por mim, talvez esse tenha sido o que mais me conectei. Ela era leitora de autores russos como Tchekov e Dostoiévski, o primeiro, inclusive, ela lia para seus filhos antes de dormir. O fato é que isso é muito visível em "Água Viva", pois a forma como as frases são colocadas, a profundidade psicológica, existencialismo o feminino e todas as suas intuições tornam uma narrativa diferenciada.

Algo que Clarice me ensina e relembra todas as vezes que a leio é sobre a importância de expressar-se, de que falar sobre os sentimentos, seja através da escrita, indo a um psicólogo, conversando com um verdadeiro amigo. Enfim, fale. 

Até a próxima resenha e cuidado com as entrelinhas. 


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