Dois Irmãos, de Milton Hatoum

 


“Ela se agarrou às coisas, e eu tentava dizer que as coisas não têm alma nem carne. As coisas são vazias... mas ela não me ouvia.”   

Publicado em 2000, tornou-se um dos livros mais conceituados do autor e também da literatura brasileira contemporânea. Além disso, é conhecido pela adaptação de uma mini-série da rede Globo e pelo quadrinho por Fábio Moon e Gabriel Bá.

O enredo se passará no estado de Amazonas, focado na trajetória de uma família desde o nascimento dos irmãos gêmeos: Omar e Yaqub. A princípio, o pai desses meninos, Halim, não é adepto ao papel da paternidade e ele deixa claro a mulher, Zana. Porém, mesmo assim, Zana insiste e eles tornam-se pais. Importante ressaltar, que a história é narrada em grande parte pelo filho de um dos gêmeos, o qual saberemos de qual deles apenas ao desfecho do livro.

A partir de então, teremos um salto de tempo em que perceberemos uma diferença de temperamento entre ambos. Yaqub é centrado, inteligente, comportado, reservado, futuramente, muda-se para São Paulo para estudar Engenharia na Universidade de São Paulo; por outro lado, temos Omar, uma pessoa enérgica, festeiro, sem perspectivas futuras e, até mesmo, mimado em demasia por sua mãe e a irmã caçula, Rânia, menina misteriosa a qual não pude decifrar ou interpretá-la durante a leitura.

É um livro composto por uma riqueza de conteúdo. Conheceremos, antes de tudo, um pouco sobre a cultura da Amazônia. Entretanto, é uma história que nos apresentará a questão dos opostos, como essa oposição entre os irmãos pode trazer a destruição não apenas de ambos, mas para toda a família. Podemos fazer relações com teorias Freudianas, visto que há a questão do ciúmes da mãe perante aos filhos e do pai, dos filhos para com a mãe. Mas, o questionamento central sobre os opostos é se a velha premissa “os opostos se completam/ se atraem” é realmente verdadeira?.

Além disso, o livro apesar de ser relativamente curto, menos de duzentas páginas, de certa maneira trouxe a sensação de ser bem maior, pois os conflitos são descritos e postos de uma maneira a qual trazem um certo peso a leitura. Ademais, a escrita de Hatoum me fez lembrar bastante a Gabriel Garcia Márquez, o qual sempre a resumo como uma linguagem sensual, que seduz o leitor e beira a poeticidade e, também, pela forma de utilizar o tempo como elemento principal para expor o desenvolvimento do personagem. Compararia Zana facilmente a Úrsula, de Cem Anos de Solidão, por exemplo.  

Uma leitura diferente, positivamente dizendo e é bem provável que lerei outras obras do autor.

Cuidado com as entrelinhas e até a próxima resenha.

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