Morte, de José de Anchieta Corrêa
“Em
síntese, trata-se de visitar o universo da morte, para melhor conhecer o
universo da vida”
Ela esteve presente desde quando mundo é mundo, aterroriza
pessoas, está presente na literatura, filosofia, história, culturalmente,
religiosamente e, infelizmente, atualmente cada vez mais normalizada e
banalizada. Mas, antes de tudo, sabemos que a sua visita indesejada será feita
mais cedo ou tarde para todos nós, será ela dolorosa, silenciosa ou fulminante? a certeza é de sua inevitabilidade.
Neste livro, publicado em 2008, tratará através de um contexto
histórico e filosófico o assunto morte, o qual é diversas vezes evitado
por ser considerado demasiado mórbido. Entretanto, veremos que nem sempre foi
bem assim; os cemitérios, por exemplo, eram ambiente os quais também tinham
outras funções como danças e feiras. Segundo o autor, através do advento e
crescimento do cristianismo o tema foi afastado e considerado cada vez menos
discutido.
Além disso, a questão do luto que é citado o texto clássico de
Freud, Luto e Melancolia, e também a forma como é um viés que faz parte da
cultura. Há lugares e tradições, por exemplo, que ao invés de ser marcado por
um momento de tristeza e sentimento de falta, é um momento feliz e de
comemoração. Tal passagem me fez lembrar da cena final do filme “Capitão
Fantástico”.
A morte, tempo, solidão e o amor, são tópicos filosóficos dos
quais sempre foram meus grandes interesses nesse campo. Muitos a consideram um
tabu e concordo com o autor no momento em que ele diz isso ser uma parcela de
culpa do cristianismo e, de certa forma, um pouco do medo do fato de ela nos tornar esquecível e ter ciência de que “um dia
seremos apenas um retrato na estante de alguém, depois nem isso”, como já
disse Drummond ou afirmarmos com freqüência de que “eu não tenho medo de morrer, qualquer hora serve, eu não me importo...
por que estaria com medo de morrer? Não há razão para isso, você tem que ir uma
hora”, em uma tradução simples da música das poucas palavras de composição
de Rick Wiright em Great Gig in the Sky, do Pink Floyd.
A questão é que estamos em um momento cujo qual nos aconteceu a
surpresa de estarmos presos em casa e vermos nos noticiários, todos os dias,
durante os últimos meses a palavra “morte”: tantos mil mortos por dia, mil
especificamente. O argumento é que assistimos diariamente a morte e ela nunca
esteve tão próxima, mas, pior ainda, nunca vimos tanto a sua banalidade como
uma forma de insulto voraz. Dessa forma, este livro nos mostra, antes de tudo,
que a morte está inteiramente ligada a vida, como em uma equação. A morte
precisa existir, para olharmos para a vida e termos conhecimento de sua
finitude e que “tudo o que temos de decidir é o que fazer com o tempo que nos é
dado”, já dizia Tolkien.
Até a próxima resenha e cuidado com as entrelinhas,
Tchau!
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