Terra Sonâmbula, de Mia Couto



“ -Mas você, meu filho, não se meta a mudar destinos”


Um dos livros mais conceituados e lidos do autor moçambicano, Terra Sonâmbula traz em seu conjunto total o poder do simbolismo e oniricidade à escrita.

O enredo conta com duas histórias paralelas cujo o contexto é uma guerra --  bem provável a guerra de independência de Moçambique -- das quais encontram-se e complementam-se entre si. De um lado, temos velho Tuahir que, logo após um ônibus o qual era passageiro, incidia. A partir de tal acontecimento, ele conhece e adota para si garoto Muidinga e ambos passam a conviver e iniciam uma longa jornada.

O detalhe principal deste livro é o caderno que Muidinga carrega consigo, acontecimento o qual nem ele mesmo sabe o por quê. Nas noites solitárias, o menino lê a história escrita nestes cadernos para o velho e, assim, passamos para a segunda história.

Os capítulos dedicados para tais cadernos chamam-se “cadernos de Kidzu” e aqui acompanharemos a história de Kidzu, um menino que apresenta uma história a respeito da fuga da guerra, sua imparcialidade e deslocamento para com sua família, o conhecimento e o desconhecimento do amor, melancolias dentre outras inevitabilidades da vida. Sua história acompanhará Muidinga e ovelho que, de certa maneira, os fazem enfrentar tal situação.

O livro é repleto de passagens bonitas, das quais é impossível não querer marcar todas as frases. É  marcado também pela melancolia constante, realismo fantástico, passagens oníricas que caracterizam e remetem ao elemento “sonâmbulo” do título, reflexões atemporais e a respeito da condição humana. A escrita de Mia Couto é muito semelhante a de Guimarães Rosa, por isso, apesar de ser um livro muito curto, necessita de bastante atenção e calma.

É, sem dúvida, um dos livros mais lindos que já li.

Cuidado com as entrelinhas, até a próxima resenha.


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