Cem anos de solidão, de Gabriel Garcia Marquez


“Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo.”


Conhecido por ser um dos livros mais abandonados pelas pessoas, é um exemplo típico de que muitas vezes as leituras estão conectadas com elementos sutis como: qual o momento que a escolhemos, se temos repertórios sentimentais o bastante para entender o que o autor quer nos dizer e se estamos, de fato, preparados para o efeito que determinadas palavras podem atingir a nós causando a famigerada identificação.

Cem Anos de Solidão passou a ser comentado novamente, tornando-se uma espécie de best-seller de quarentena de muitas pessoas durante estes tempos. Eu estava há exatos cinco meses o lendo, mas apenas no mês de junho consegui terminá-lo e, posso dizer com sinceridade, não é qualquer livro.

Acompanhamos aqui, a história de cem anos da família Buendía e toda a trajetória de início da cidade de Macondo, fundada por José Arcádio Buendía. Ele é casado com Úrsula, personagem a qual acompanha praticamente, todas as gerações dos Buendias. Ambos são pais de José Arcádio e Aureliano Buendia. No primeiro capítulo, passamos a conhecer melhor cada um desses personagens e, também, a visita constante de Melquíades, um cigano muito inteligente que sempre traz elementos de cunho tecnológico para aquela região. Melquíades torna-se um grande amigo de José Arcádio Buendia, o qual passa a dedicar-se a invenções.

O enredo então, seguirá a partir do crescimento da árvore genealógica de tais personagens dos quais nascem, crescem, formam uma personalidade, vivem, casam, tem filhos e esses filhos seguem o ciclo da vida de crescer, tornar-se adultos, casarem-se, terem filhos e assim por diante. O que torna a história mais rica é que todos os personagens carregam em si justamente o ciclo que não se rompe durante esses cem anos, o que podemos considerar aqui a tal da lei do eterno retorno, de Nietzsche.

Surge então, um ponto a não desconsiderar. Muitos dizem que Cem Anos de Solidão e O Amor nos Tempos do Cólera são livros demasiados distintos. Não concordo! Em ambos temos sim uma linguagem diferente, porém os personagens presentes em ambos os livros, mostram algo que é característico nos romances de Garcia Marquez: a questão do tempo, do medo do envelhecimento e a forma como tal acontecimento traz a solidão de maneira ríspida e cruel e, antes de tudo, do amor como um suspiro para preencher vazios... ou não.

Antes de tudo, não é um livro fácil. A organização parental dos personagens e os nomes semelhantes trazem confusão e exige do leitor maior atenção. No entanto, assim passadas as cem primeiras páginas da história começa a fluir, até porque vamos nos acostumando com a escrita de Garcia Marquez. É constituído de muitas simbologias como a castanheira em que José Arcádio Buendía planta e passa seus últimos anos embaixo, que cresce e envelhece com a família durante toda tragetória; a questão da chuva praticamente diluvial que duram exatos cinco anos; a questão do tempo como fator principal; a morte trabalhada como uma maneira de encerramento dos ciclos; o sentimento de solidão, que acompanha de certa maneira, todos os personagens do livro em algum momento.

Ademais, este livro me mostrou que não devemos ter medo de certas narrativas. Eu, por exemplo, tinha muito medo de lê-lo e não entender, até porque já o tinha pegado durante quatro vezes e... nada. No entanto, senti que desta vez estava preparada para tal enredo.

Às vezes, o que precisamos é estarmos preparados e guardarmos dores suficientes para entendermos o que o outro tem a nos dizer.

Uma boa leitura para vocês e cuidado com as entrelinhas.



Comentários

  1. O parentesco dos personagens é bastante confuso mesmo. O esquema da árvore genealógica no começo do livro ajuda mas também dá alguns spoilers. "Cem Anos de Solidão" e "O Amor nos Tempos do Cólera" inicialmente me pareceram bem diferentes, e confesso que O Amor ficou aquém das expectativas, porém observando a questão da passagem do tempo realmente faz sentido a semelhança.

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    1. Concordo com você. O Amor me decepcionou muito, eu tinha criado muitas expectativas, Cem Anos é bem melhor.

      Muito obrigada pelo comentário. Seja sempre bem-vindo (a).

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