Senhor das Moscas, de William Golding

 



“Essa coisa do medo – vocês vão ter de aprender a viver com ele, como o resto de nós”


Livro publicado em 1954, ganhador do Nobel de literatura em 1983, traz uma história satírica, incrédula e cética a outro livro chamado “A ilha de Coral”. Dessa maneira, trouxe reflexões a respeito da natureza humana, aproximando-se as ideias de Thomas Hobbes sobre a humanidade: “o homem é o lobo do homem”, já citado em seu livro “Leviatã. Como toda literatura pós-guerra, caracteriza-se ao pessimismo e personagens falhos, anti-herois e completamente sujeito a erros.

O enredo iniciará com um acidente de avião, cujos sobreviventes foram apenas crianças; as principais e mais marcantes do livro: Ralph, Jack, Sam and Eric ( irmãos gêmeos), Porquinho, Simon, Roger. Sob a ausência de vigilância de um adulto, essas crianças passam a estabelecer suas próprias regras e com o auxílio de uma concha, encontrada por Porquinho, Ralph passa a fazer diversos chamamentos e reuniões para discutirem ideias. Ao início, todos cooperam, entretanto, Jack, parece não estar satisfeito e passa a fazer suas próprias regras de forma violenta e autoritária.

A partir de aqui, as crianças passam por momentos estranhos, sobrenaturais e fugas de um “monstro”, que aparentemente assola a ilha. Nestes momentos conheceremos um pouco mais destes personagens e decidimos se gostamos deles ou não.

Essa foi uma segunda leitura e me surpreendi com a quantidade de informações que percebi, das quais passaram totalmente despercebidas na primeira vez. Como já dito, foi um livro escrito na pós-segunda guerra mundial e teremos algumas representações claras a respeito disso nos próprios personagens. Achei também que esse livro, comparando ao Apanhador no Campo de Centeio, traz a questão da ruptura da inocência, além dos questionamentos sobre a vida em uma sociedade, a ideologias políticas e, com certeza, a questão polêmica do homem já nascer mal por natureza, ou seja, você, eu, todos nós carregamos o mal e o bem dentro de nossos corações gerando um equilíbrio natural, se expressamos muito apenas um lado é porque ainda não tivemos a oportunidade de exercer o outro.

Livro riquíssimo, que pede releituras, coloca você para pensar sobre si mesmo, sua condição como Ser Humano, faz você se questionar de coisas que não imaginava e crenças ideológicas.

Se eu desse estrelas, provavelmente seria um livro não de cinco, mas de mil estrelas e luas também. Ademais, tornou-se, junto ao Apanhador no Campo de Centeio e Os Irmãos Karamázov, um dos meus preferidos da vida, daqueles que levaria a uma ilha deserta, que salvaria em um incêndio e tudo o mais.

Como é um livro que tem a questão das simbologias, fiz pequenas observações para ajudar em sua leitura futura.

 

A Simbologia em O Senhor das Moscas

Para todos que lêem este livro, se deparará com diversas simbologias que ajudarão no entendimento e interpretação do enredo. Ressaltando que essa foi uma releitura e a primeira vez que o li, aproximadamente há quatro anos, não captei no primeiro momento. Separei por tópicos:

Obs.: interpretações feitas com a consulta do site: https://habitantesdenarnia.wordpress.com/2016/06/24/simbologia-em-o-senhor-das-moscas/#:~:text=O%20Senhor%20das%20Moscas%20%C3%A9,os%20tr%C3%AAs%20primeiros%20anjos%20ca%C3%ADdos.

 

E o dicionário de símbolos: https://www.dicionariodesimbolos.com.br/

 

O título (Senhor das Moscas): Lord of the Flies, em seu título original, remete ao mal e todas as suas conseqüências. Algumas críticas defendem que “Senhor das Moscas” seria a representação do demônio. 

Porquinho: representa a ciência e o raciocínio. É inteligente e logo ao início percebemos a sua lucidez, visto que é dele a idéia da concha. Ralph o descarta e até mesmo zomba de Porquinho junto a Jack, no entanto, ele mesmo passa a perceber que sua fama é devido a Porquinho.

Ralph:representa a democracia e liderança. É o mais velho do grupo, 12 anos. Porquinho expõe as ideias e ele explana através da concha. Ele é um dos exemplo de que o homem é mal e bom ao mesmo tempo.

Jack:representa o autoritarismo. Críticos defendem que ele seria uma personificação para o nazismo. Entretanto, assim como Ralph, não é bom e mal totalmente;

Simon:representa a espiritualidade. Ele é o único que consegue entender quem é o verdadeiro “monstro”. Foi um dos personagens que mais gostei, mas infelizmente pouco explorado pelo autor.

A ilha:representa a vida, comparada por muitos como a representação do Jardim do Éden e por vezes o próprio inferno. A partir dessa definição, podemos dizer que representa o equilíbrio entre o bem e o mal.

O bicho: representa o “Leviathan”, de Thomas Hobbes, isto é, “homem é o lobo do homem”.

A concha:representa o oposto ao autoritarismo, pois ela é instrumento principal para representar o direito à fala e opiniões.

Os porcos: de acordo com o dicionário de símbolos, a figura do porco é representando desde a antiguidade – na bíblia, inclusive – como ignorância, gula, egoísmo. Esse símbolo é tão forte que cristãos associam o animal a figura do demônio e é a única carne a qual os judeus não comem. Essa definição liga-se a narrativa, pois nos momentos de enorme fúria e agressividade de Jack, principalmente, são acompanhadas com a morte de um porco.

Há um filme dirigido por Harry Hook, de 1990, disponível no Youtube. Assisti, porém ainda prefiro o livro.  

Cuidado com as entrelinhas, até a próxima a resenha e leiam Senhor das Moscas uma, duas,três, infinitas vezes.

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