Robinson Crusoé, de Daniel Defoe

 


“(...) a gratidão não é uma virtude inerente à natureza do homem e nem sempre os homens guiam seus atos pelos favores que recebem, mas antes pelas vantagens que esperam conseguir.“


Clássico dos clássicos quando se trata de literatura marítima, Robinson Crusoé talvez seja uma das narrativas mais comentadas e discutidas no mundo literário. No entanto, grande parte do que nos é apresentado sobre o livro, não passa de um lapso, até mesmo superficial.

O livro foi publicado sob o formato de folhetins no jornal The Daily Post. Nos é contado em primeira pessoa por Robinson Kreutznaer, porém devido a “corrupção costumeira das palavras na Inglaterra” foi convertido apenas a Robinson Crusoé.

Terceiro filho de uma família tradicional, Robinson desagrada aos seus pais no momento em que decide não seguir nenhuma profissão, mas sim viajar pelo mar. Seu pai, principalmente, não concorda com a ideia e o aconselha diversas vezes, mas não é escutado pelo filho:


“(...) disse ele, jamais fosse deixar de rezar por mim, ainda assim queria me dizer que, se eu de fato persistisse naquela decisão insensata, Deus não haveria de me abençoar, e eu teria tempo de sobra mais adiante para refletir sobre o desacato a seu conselho quando não houvesse ninguém para me apoiar em meu restabelecimento.”

(Edição Penguin Companhia. P. 48)


O trecho anterior está nas primeiras páginas da história e, apesar de curto, nos será lembrado em quase todos os momentos do livro. Depois deste conselho, quase até mesmo uma praga a seu filho, Robinson parte para sua primeira aventura marítima, mas não obtém sucesso visto que o barco em que está sofre um acidente. Isso ocorre sucessivas vezes, em diversas embarcações diferentes o que nos faz perceber que Crusoé não está destinado a tal atividade. Até que, de fato, temos o momento de naufrágio total e quando ele se estabelecerá durante 28 anos.

Alguns ponto importantes é que levará algumas páginas até chegar ao naufrágio fixo. Até lá, acompanharemos a passagem de Crusoé em alguns lugares e, entre eles, o Brasil em que ficará em grande parte. A questão da escravidão que estava em voga nesta época é descrita pelo autor de forma, digamos, crua e será citado, inclusive, as tribos de canibais existentes. Outrossim, tem-se a questão do próprio personagem-narrador, Robinson Crusoé ser um sujeito que me surpreendeu negativamente por motivos de extremamo preconceito. Os momentos em que ele depara-se com a população indígena, principalmente os canibais, trazem falas um pouco difíceis de digerir. Entretanto, sempre bom lembrar que esse livro é bem antigo, escrito em uma época em que pensar de tal forma era normal.

Além disso, algo pouco discutido quando sobre esse livro é a questão religiosa. Crusoé é muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito religioso. São diversos os momentos durante a leitura, que nos deparamos com citações bíblicas e todas elas relacionados ao destino, sobrevivência e resiliência, dos quais tornam o enredo bonito.

Apesar de ser um livro marítimo, cuja temática gosto bastante, pois geralmente esse tema traz discussões de isolamento e psicologia, não foi exatamente isso que encontraremos aqui. Talvez, o que mais veremos é a questão do personagem em si, seus pontos de vista que são na maioria das vezes egoístas e repletos de preconceitos, como já dito.

Recomendo, mas tenha um olhar crítico durante a leitura. 

Até a próxima resenha e cuidado com as entrelinhas.

Comentários

  1. Eu li uma versão infanto juvenil desse livro durante a escola, e gostei bastante. Mas não sei se leria o livro mesmo, prefiro ficar com a lembrança que tenho da história

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    1. Eu tinha uma outra ideia deste livro, até por conta do filme "O Náufrago", pensava sempre que seria algo parecido. Porém, há detalhes bem diferentes. Não deixa de ser um bom livro, mas acho que coloquei muitas expectativas hahahaha. Volte sempre, Miss Biblioteca <3

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