Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister, de Goethe

 



“-Até então eu jamais havia visto um espírito numa situação tão singular. Já faz muitos anos que ele deixou de demonstrar o mínimo interesse por aquilo que o rodeia, chegando até mesmo a não se dar quase conta de coisa alguma; fechado em si mesmo, contemplava seu oco e vazio eu, que lhe parecia um abismo insondável.”

 

Alguma vez você já ouviu falar sobre literatura de formação? Caso já tenha ouvido, pode ter sido pelo contato com obras como Apanhador no Campo de Centeio, David Copperfield, A Montanha Mágica ou até mesmo Huckleberry Finn.

Entretanto, o que é, de fato, um romance de formação?

O termo surgiu a partir da palavra alemã Bildungsroman, cuja tradução mais próxima seria Formação, por um professor de filologia o qual, futuramente, associou ao livro em questão. Dessa forma, um romance de formação é um livro em que o leitor acompanha o desenvolvimento e mudanças do psicológico, pessoal e de opiniões através de momentos de transições sociais, políticas ou até mesmo de diversos acontecimentos durante o enredo. São exemplos de Romance formação, junto aos livros citados acima:

 

-O Apanhador no Campo de Centeio, de J.D. Sallinger;

-Anne de Green Gables, de Lucy Maud Montgomery;

-Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa; 

-Tom Sawyer, de Mark Twain;

-Huckleberry Finn, de Mark Twain;

-Grandes Esperanças, de Charles Dickens;

-David Copperfield, de Charles Dickens;

-Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust;

-O Tambor, de Günter Grass;

-Demian, de Hermann Hesse;

-Norwegian Wood, de Haruki Murakami;

-Dentre muitos outros.

 

Sobre Os Anos de Aprendizado Wilhelm Meister


Este livro é dividido em oito longas partes e acompanharemos a formação de Wilhelm Meister, que bem ao início será ainda muito jovem, perdido de amores por uma menina chamada Marianne e com sonhos e ilusões ainda firmes e inquebrantáveis. Ele é um rapaz inteligente, sensível e tem como paixão o teatro e deseja seguir com esta carreira, embora seja visível que sua família não o apoia em tal decisão. Esta primeira parte, inclusive, lembra bastante Werther, isto é, um pouco dramático demais.

Contudo, conforme o decorrer da história, Wilhelm realmente segue sua profissão no mundo teatral, em que o livro será constituído. A impressão passada é de que crescemos junto ao personagem, com todas as suas decepções amorosas, profissionais, psicológicas e morais. Algo interessantíssimo a observar neste livro é como Goethe mudou o tom de sua escrita de acordo com as transições de Wilhelm.

Além disso, é um livro que acerca-se pela questão do destino. Na primeira parte, por exemplo, quando ainda é um garoto e acredita piamente estar destinado ao amor de Marianne, vem um estranho mais velho – uma figura que achei bem encantadora que aparece em outras passagens- e lhe propõe uma reflexão sobre o destino divergir de acordo com a época, condição e contexto social de um determinado indivíduo.

 

“- Mas então, o senhor não crê em destino? Num poder que nos governe e tudo conduza para o nosso bem?

-(...) A trama deste mundo é tecida pela necessidade e pelo acaso; a razão do homem se situa entre os dois e sabe dominá-los; ela trata o necessário como a base de sua existência; sabe desviar, conduzir e aproveitar o acaso, e só enquanto se mantém firme e inquebrantável é que o homem merece ser chamado de Deus na Terra. ”

(Página: 83. Editora 34)

“(...) infeliz aquele que, desde sua juventude, habitua-se a querer encontrar no necessário alguma coisa de arbitrário, a querer atribuir ao acaso uma espécie de razão, tornando-se mesmo uma religião segui-lo! Que seria isso senão renunciar à própria razão e dar ampla margem a suas inclinações? Imaginamo-nos piedosos, enquanto avançamos, vagando sem refletir, deixando-nos determinar por contingente agradáveis, e acabamos por dar ao resultado de uma tal vida vacilante o nome de uma direção divina.”

(Página: 83. Editora 34)

“-O senhor nunca se viu numa situação em que uma pequena circunstância o obrigasse a seguir um determinado caminho, em que logo lhe viesse ao encontro uma agradável ocasião, e onde uma série de lances inesperados o conduzisse enfim a um propósito que nem mesmo o senhor havia considerado? Isto não deveria inspirar-nos a submissão ao destino, a confiança num tal guia?”

(Página: 83. Editora 34)

 

Devo admitir que a leitura não é das mais fáceis, até porque Goethe não é um dos meus autores preferidos, vide jovem Werther, que é um dos livros que realmente nunca me convenceu completamente. Entretanto, nesta segunda leitura, que fiz por causa de uma disciplina da faculdade, me trouxe um olhar totalmente diferente da vez que fiz há três anos. O que mais gosto em romances de formações é a maneira como todos nós vamos nos enxergar ali, de uma forma ou outra, principalmente no que tange sonhos juvenis vs realidade adulta. Eu me vi muitas vezes em Wilhelm em seus momentos mais juvenis (primeira, segunda e terceira parte-, quando tudo é intenso demais e acreditamos em tudo. O enredo mudou completamente a minha visão sobre o destino e imposições quanto a profissões. Digo com firmeza que este, apesar de não ter sido um livro o qual considerarei um dos meus preferidos da vida e tudo o mais, devo admitir que o impacto causado em minha personalidade, principalmente, foi algo que surpreendeu-me bastante.

Recomendado. Dêem uma chance ao velho Goethe, embora ele possa ser um pouco dramático.

Cuidado com as entrelinhas e até a próxima resenha. 


Comentários

  1. Interessante esta sua visão... Faz-nos pensar sobte como sentem os leitores a respeito de romances do gênero...

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    1. É um livro, em geral, muito bom. Porém, é estilo de leitura que necessita de paciência em algumas partes, para não ficar entediante. Volte sempre ! =)

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  2. Interessante esta sua visão... Faz-nos pensar sobte como sentem os leitores a respeito de romances do gênero...

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