A invenção de Morel, de Adolfo Bioy Casares

 


“Não espero nada. Isto não é horrível. Depois de tomar essa decisão ganhei tranqüilidade.”

 

Citados na série Lost pelo personagem Sawyer e, também, um dos responsáveis para a criação da série. A invenção de Morel, foi publicado em 1940, final da Segunda Guerra Mundial e apresenta diversas questões e profundidade, apesar de ter poucas páginas.

Narrado em primeira pessoa, neste enredo seremos apresentados a um personagem o qual não tem seu nome referido durante o livro, cujo qual é um fugitivo de uma prisão e que também não seremos informados qual o crime cometido. Dessa forma, acompanharemos desde o início a sua sobrevivência em tal ilha e seus devaneios enquanto seus dias isolado. Estes momentos, inclusive, foram meus preferidos durante a história, visto que são diversas as análises e observações desse personagem diante de sua condição anterior e atual.

Depois de umas cem páginas, seremos inseridos a uma mudança repentina do personagem, do quais descobre a partir de então, não estar completamente sozinho neste ambiente. O leitor passa a observar o processo de cair em amores por uma moça residente à ilha, Faustine. Entretanto, quando não sozinha, está sempre acompanhada de outras pessoas, dentre as quais, Morel, um homem misterioso, mas fundamental para o desfecho e diversas, mas diversas reflexões a respeito de experimentos científicos. Por conta disso, Morel lembrou bastante Moreau, de A Ilha do Doutor Moreau, de H.G. Wells.

A infinidade de temas a serem discutidos a partir desse livro são imensas, dentre eles: a solidão e a forma de como não esperar nada de ninguém pode ser o segredo de encontrar a paz; o amor diante de uma imagem, a qual me lembrou as paixões em redes sociais, os famigerados webnamoros;  ainda sobre o amor, a forma como o mais racional dos homens podem perder-se enquanto movidos a tal sentimento e o quão desconcertante é a imagem do objeto amado frente ao apaixonado; o questionamento do que é real e não real diante a imagem do ser amado e até que ponto as pessoas que amamos não são projeções do que nós gostaríamos de ser, termos sido ou somos; as ausências de algo pode ser fundamental para atingirmos uma certa maturidade e a aceitação da morte – o luto – como um dos momentos mais importantes de quem está presente.

Por fim, apesar de ser um livro que nos mostrará as limitações de vida, morte e esquecimento, temos também a questão da imagem e, cada vez mais, torna-se uma realidade em nossa geração, visto que estamos em meio a uma pandemia e as fotografias, vídeo-chamadas e reproduções diversas de nossa imagem tornam-se cada vez mais constantes e necessárias, pois sentimos, inevitavelmente, o vazio da presença. Estaremos caminhando para o afastamento do real? A realidade descrita em imagens e fotos de perfil é algo apenas do momento da pandemia ou já estávamos caminhando a isso, antes mesmo de tudo acontecer?

De qualquer maneira, este livro é excelente e muito atual em seus argumentos. Como já dito, ele foi um dos livros que influenciaram a criação da série LOST e é lido por um dos personagens na quarta temporada. Além disso, foi descrito por Borges como “uma trama perfeita”, que inclusive, concordo inteiramente.

Mais do que recomendado!

 

Cuidado com as entrelinhas e até a próxima resenha.

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