O cemitério, de Stephen King

 


“Ele chorou pelo seu cão, esgotou a tristeza e foi em frente. E é o que todos nós fazemos”

“Vimos a morte ao mesmo tempo como amiga e inimiga”

“Como médico, ele sabia que a morte, exceto talvez a morte durante o parto, era a coisa mais natural do mundo. Os impostos não eram naturais, os conflitos humanos também não, nem os conflitos sociais, as discussões e a pancadaria. No fundo, só havia o relógio e as lápides, que se desgastavam e ficavam anônimas com o passar do tempo. Mesmo as tartarugas-marinhas e as sequóias gigantes têm de acabar algum dia.“

 

Publicado em 1983, este é um dos livros fundamentais para amantes de King. O livro inspirou a música Pet Sematary, dos Ramones, que inclusive, depois de ler o livro entendemos o por quê Sematary estar grafado com “s” ao invés de “c”.

Seremos apresentados a uma família que acaba de mudar-se para uma cidade aparentemente tranquila. Essa família é formada por Louis Creed que é  Rachel Creed, pais de Ellie, a mais velha e Gage, uma criança com a faixa etária de três anos e um gato, Winston Churchill. Ao chegarem, acabam quase instantaneamente conhecendo Jud Crandall e sua esposa, ambos bem idosos, simpáticos e, por ser uma história de Stephen King, passamos a pensar desde o início se são de fato tão inocentes assim.

A amizade entre as duas famílias segue de forma ordenada e fazem até mesmo um passeio juntos para o “Pet Sematary”, isto é, um cemitério de animais construído por crianças da região há muito, mas muito tempo, para enterrarem seus animais de estimação, entre essas crianças, está Jud Crandall, o qual enterrou seu cachorro. Depois disso, teremos o ponto central do enredo, pois depois deste passeio, a família Creed faz uma viagem, menos o Louis, e é neste momento que o gatinho da família, Winston, morre atropelado. Creed, desesperado pela reação de sua filha Ellie, perante a morte do animal, decide enterra-lo no “Pet Sematary”. Porém, isso terá consequências bem, mas bem estranhas.

Como já citado, a música Pet Semetery dá um bom spoiler por si só no livro, mas mesmo depois de anos escutando o refrão “ I don’t wanna be buried in a Pet Sematery, I don’t wanna to live my life again”, apenas o entendi de fato  depois de ler o livro. Além disso, a música foi encomendada para a primeira adaptação cinematográfica do filme, de 1989, sob a direção de Mary Lambert. Não foi bem recebida pela crítica, porém ganhou destaque nos anos seguintes. Houve recentemente o remake da obra, em 2019. Assisti aos dois e prefiro a versão antiga.  

Agora, quanto ao livro e história no geral. É uma boa história de terror, mas não apenas isso. Assim como tudo o que já li do Stephen King até o momento, contém originalidade, boa desenvoltura narrativa que prende o leitor.

Ademais, percebi que a intenção do autor nesta história não foi apenas assustar, mas causar discussões sobre a morte. Um dos trechos mais interessantes é quando Louis tenta explicar para sua filha a respeito do assunto, seguido por uma crise de choro da garota quando, em uma conversa casual de família, ele toca no assunto da possibilidade de Winston, o gato, morrer um dia. Percebi que, se eu tivesse um filho, talvez o assunto morte fosse igual ou tão mais difícil quanto falar de sexo. O mais engraçado, é que um diz respeito a geração de vida e outro a seu fim e como explicar a origem e o fim são igualmente complicados. No meu caso, assim como Ellie, meu primeiro contato com a perda e morte foi com os animais que eu tinha aqui em casa quando menor e fiquei refletindo o quão, na época, isso foi um pouco perturbador. 

Porém, mais a frente na história, temos diversos relatos sobre casos de morte na vida de outros personagens, como os animais de estimações e suas respectivas mortes podem ser o primeiro contato desse momento para as crianças, de forma a decidirem por dois caminhos fundamentais: deixar ir ou nunca conformar-se com essa perda.Talvez, esta última reflexão possa encaixar-se com qualquer âmbito de nossas existências, pois acredito que morremos diversas vezes ainda em vida. Quantas vezes olhamos para trás e percebemos que não somos mais os mesmos? Aquela pessoa de dez anos, de certa forma, morreu.

Porém, o único elemento que tenha me decepcionado foi o gato, pois eu esperava que ele fosse fazer mais maldades e aterrorizar um pouco mais, mas em grande parte do tempo ele permanece sendo... fofo.

Isso que me faz gostar de Stephen King, nunca é apenas o terror pelo terror, sempre tem algo a mais, uma discussão a mais.

Olha, livrão.

Cuidado com as entrelinhas e até a próxima resenha.

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