Grande Sertão Veredas, de João Guimarães Rosa



Considerado não apenas a obra prima de Guimarães Rosa, mas também um dos maior e mais importantes enredos da literatura brasileira, Grande Sertão Veredas apresenta, antes de tudo,a discussão constante a respeito de assuntos universais tais como amizade, amor, felicidade dentre outros aspectos. 

Apesar de serem assuntos que, em predominância ou se não forem trabalhados cuidadosamente, tornam-se automaticamente clichês. No entanto, é isso que diferencia a escrita de Guimarães Rosa: a maneira como ele escreve, a forma como joga com as palavras e as expressa, trazem um imenso encanto e, por vezes, dificuldades na leitura em razão desse atrevimento linguístico.

Temos, portanto, uma história narrada pelo Jagunço aposentado, Riobaldo. O personagem conta a sua história de acordo com suas lembranças a respeito de uma época específica em que haviam muitas batalhas, conflitos e discórdias no período de jagunçagem. São através dessas guerras, que Riobaldo atravessa momentos de imersões muito profundas, levando-o a transições profundas e mudanças internas muito presentes. Ademais, o enredo terá um ponto de partida muito presente durante toda a narrativa: a história de amor, platônico entre Riobaldo e Diadorim, o qual também aparece como Reinaldo. 

Esse ponto da história merece, antes de tudo, uma maior atenção. Aqui temos uma descrição muito bonita e emocionante do que seria, em tese o amor. Se alguém hoje, me perguntasse qual seria a definição inicial deste sentimento tão misterioso, talvez eu indicasse esse livro como um pontapé inicial. A maneira como Riobaldo expõe seus sentimentos, basicamente feitos a partir de constantes fluxos de consciência, a forma como observa Diadorim e descreve seus sentimentos, é, sem exagero algum, uma das narrativas mais lindas e cativante que já li em vida. Ademais, é possível acrescentar que percebe-se em peso a força que Diadorim exerce sob a alma de Riobaldo, aquele seja talvez o estompim para que este suporte o sertão, a seca, os desafios da jagunçagem e dentre outros aspectos dos quais aprendemos em vida. 

É de extrema importância ressaltar que tanto em Grande Sertão, quanto em outras obras de Guimarães Rosa, a questão de frases de impacto e muito bonitas estão muito presentes em toda a sua obra. Aqui encontramos, além de tudo, uma narrativa com muitas sinuosidades, ora ficamos muito envolvidos, ora entediados, até mesmo perdidos. Mesmo com tais montanhas russas, o livro é em si, muito bonito e vale muito, mas muito a pena ler.


“O senhor... Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas elas vão sempre mudando. Afinam e desafinal. Verdade maior. É o que a vida me ensinou!.”
p. 39

“Viver é muito perigoso...”
p. 101

“Vida devia de ser como na sala do teatro, cada um inteiro fazendo com forte gosto seu papel, desempenho. Era o que eu acho, é o que eu achava”

p.261


“Aquele lugar, o ar. Primeiro, fiquei sabendo que gostava de Diadorim – de amor mesmo amor, mal encoberto de amizade.”
p.305

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