Germinal, de Émile Zola



Conhecido como a obra principal de Emile Zola, o Romance Germinal conta de forma crua a precária situação vivida pelos trabalhadores de uma mina Voreux. Fome e doenças atacam a vida desses trabalhadores e sua linguagem é muito semelhante ao cortiço, de Aluísio Azevedo, visto que ambos fazem parte da escola literária Realismo/ Naturalismo.

Para escrever este livro, o autor inseriu-se na vida real em uma mina e interagiu com tais trabalhadores durante um tempo, sentindo em sua pele a dureza da realidade vivida por essas pessoas. Dessa forma, influenciado por obras Marxianas, escreve Germinal como uma forma de denúncia a esse tratamento, além da incitação de greves.

Percebemos um ambiente em que as pessoas estão passando por uma crise econômica. O enredo inicia com o personagem Etienne andando nas ruas, a observar os campos de beterraba, ele procura por um emprego. Dessa maneira, ao conversar com alguns empregados da Mina Etienne começa a trabalhar. O personagem é uma pessoa observadora, presencia cenas abruptas de fome, miséria e desolação. Ao decorrer do livro, Etienne conhece um russo, o Suvarin, que tem uma bagagem literária  em grande parte livros a respeito de revoluções e greves, dentre eles, O Manifesto Comunista, de Marx e A Origem das Espécies, de Charles Darwin; a partir de então, Etienne começa a estudar a respeito e a planejar futuras greves contra a mineradora, com o objetivo de melhorias nas condições do ambiente de trabalho e salários justos:

“Nas primeiras semanas, Etienne acharão extremamente reservado, não tendo conhecido senão mais tarde toda a sua história. Suvarin era o último rebento de uma família nobre do governo Tula. Em São Petersburgo, onde estudava medicina, a paixão socialista que inflamava então toda a juventude russa decidirão aprender um ofício manual, o de mecânico, para estar assim junto ao povo , conhecê-lo e ajudá-lo como irmão. “
ZOLA, Émile. Germinal.P.148. Editora Abril

“Uma gama variada de perguntas confusas não o deixava em paz: porque havia tanta miséria de um lado e tanta riqueza de outro? Por que estes tinham de viver escravizados àqueles, sem a menor esperança de um dia mudarem de posição? A primeira etapa foi vencida foi a compreensão de sua ignorância”
ZOLA, Émile. Germinal.P.172. Editora Abril

“-Mas o pior é quando a gente se diz que tudo isso pode mudar... Quando se é jovem, imagina-se que a felicidade virá, temse eperança, mas a miséria continua e nada muda... Eu não desejo mal a ninguém, mas certas vezes fico revoltada com tanta miséria.”
ZOLA, Émile. Germinal.P.174. Editora Abril

“Esta última palavra fora pronunciada a meia voz, com fervor religioso, em direção ao Oriente. Falava do mestre, de Bakunin, o exterminador”
ZOLA, Émile. Germinal.P.251. Editora Abril

“Teria razão Darwin, o mundo não seria mais que uma batalha, os fortes devorando os fracos, para o embelezamento e a cocntinuidade da espécie? Essa questão pertubou-o, ainda que tivesse para ela resposta categórica, como homem verdadeiramente satisfeito com seu saber”
ZOLA, Émile. Germinal.P.533. Editora Abril


Outrossim, a história mostra um pouco sobre os donos da mina, revelando a disparidade social ali contidas, obviamente, não diferente do que observamos na realidade entre os senhores donos na Mina e toda a sua vida com infinitas regalias, boa alimentação e qualidade de vida.Outra proposta importante do livro é a questão da mulher. Catherine, junto com Etienne formam os principais deste livro. A maneira como ela e as outras mulheres da Mina são tratadas também são absurdas, o estupro torna-se banal naquela comunidade. Ela conhecece Chaval, que depois de violentar, a toma para si como sua mulher. No entanto, como é algo freqüente ela não protesta por achar “normal’. Inclusive, Etienne é apaixonado por Catherine desde o principio e fica horrorizado com tratamento de Chaval para com ela.

“-Mais esta! Já estas dormindo? Gritou violentamente Chaval quando não ouviu Catherine movimentar-se. –Que castigo para mim ter conseguido uma estropiada dessa! Vais ou não vais encher teu vagonete e empurrá-lo?”
ZOLA, Émile. Germinal.P.317. Editora Abril

“Ela respondeu com uma aceno na cabeça. Muitas vezes os homens se juntavam a uma mulher só para usá-la, não se importando com a felicidade dela. Suas lágrimas começaram a correr mais quentes, desesperava-se ao pensar que poderia estar levando uma vida agradável, se fosse outro companheiro, um rapaz que gostasse de envolve-la assim (...) Mas agora já era tarde, seu único desejo era viver até o fim da vida com este, desde que não a maltratasse muito.”
ZOLA, Émile. Germinal.P.322. Editora Abril



O restante do livro descreverá os processos da greve em âmbitos ideológicos e humanos. Como dito, é um livro com uma proposta muito parecida com O Cortiço. No entanto, esse livro me fez lembrar também Crime e Castigo, pelo fato de durante a leitura nos apresentar sensações físicas. Eu, por exemplo, sentia muita fome em algumas descrições do sanduíche que Catherine divide com Etienne, as descrições detalhadas sobre o alimento e da sensação que eles sentiam ao comer eram tão reais que a fome me preenchia por completo e ao estômago ressoar seu som profundo percebia que me convidava para um bom apetite. No entanto, ouvi pessoas que sentiram ao contrário: perdiam o apetite.

Em suma, digeri bastante o livro e o achei ótimo e necessário! Não é uma leitura rápida, mas mesmo assim temos tempo suficiente para conhecer aos personagens, os quais tem personalidade fortes e permanecem pelos cuidados de nossa mente por algum tempo. De certo, é um livro que pode incomodar e, por conseguinte, não agradar a todos. Contudo, é daquelas narrativas que temos de reservar um momento para ler em algum estágio da vida. Não é um livro para distrair e sim para provocar e incomodar.

Cuidado com as entrelinhas,

Tenham uma boa leitura.


Comentários

Postagens mais visitadas