Humilhados e ofendidos, de Fiódor Dostoiévski

“Em certas pessoas de natureza terna e delicada há às vezes uma obstinação, uma recusa pudica em expressar e manifestar sua ternura até mesmo por um ente querido, e não apenas diante de outras pessoas, mas até mesmo na intimidade; mais ainda na intimidade; apenas ocasionalmente deixam irromper uma carícia, e quanto mais tempo tiver sido represada, maior é o ardor e a impetuosidade com que irrompe.”


“(...)Tinham a dolorosa sensação de estarem sozinhos no mundo.”


Publicado em 1861, Humilhados e Ofendidos é uma daquelas obras das quais são preciosidades de um autor, porém é ofuscada em meio aos seus outros romances, também grandiosos, inclusive. 

Nesta história, segue-se Ivan Petróvitch, um jovem inclinado à escrita e feliz pelo seu livro recém-publicado. Apesar de inicialmente apresentar-se solitário, conforme a história passa conhecemos suas outras relações, vínculos e sentimentos impulsionados frente a cada pessoa. Dentre esses personagens destaca-se Natacha, a qual o Ivan nutre um amor silencioso e não correspondido, pois a moça é perdidamente apaixonada por outra pessoa.

Assim como parte das obras de Dostoiévski, a questão psicológica predomina na narrativa, pois demonstra que ao tratar de sentimentos humanos nada é resumido apenas a duas linhas concretas e lineares, mas sim repletos de complexidades talvez nunca totalmente entendidas por completo pela humanidade. Além disso, há em alguns livros desse autor, alguns personagens que aparecem ao início da história como um presságio.  

Em Humilhados e ofendidos nos deparamos com longos diálogos que nos permite conhecer a fundo esses personagens e o peso emocional carregados por cada um. O amor, por exemplo, é o assunto principal abordado no enredo por seus diversos ângulos, inclusive deixando ao final do livro a reflexão e questionamento sobre o “caráter” dos sentimentos, visto que diariamente nos vemos classificando-os como “bons" ou “ruins”. O amor seria tão bom assim? É inegável que ele nos motiva, mas também pode nos adoecer, aprisionar e até mesmo levar a medidas trágicas. O mesmo com o ódio, rancor ou raiva dos quais nos torna negativos, contudo, em alguns casos, nos liberta e impulsiona. 

Leitura recomendada e junto a ela um aviso: não é um livro para se ler com pressa (não que algum livro possa), é um livro para ser lido, mas também sentido; portanto durante a sua leitura, desse ou qualquer livro de Dostoiévski, deixe ao lado todo o sistema de imediatismo do qual vivemos. Sinta a leitura e o que esse autor quer lhe dizer. 

Cuidado com as entrelinhas e até a próxima.


Comentários

Postagens mais visitadas