Lojas de canela e outras narrativas, de Bruno Schulz

 




“Nessa cidade de material humano barato, falta também exuberância de instinto, faltam paixões obscuras e extraordinárias.”


O livro foi publicado pela primeira vez em 1933, período pré Segunda Guerra Mundial e naturalmente um dos mais importantes da literatura judaica. Apesar de ser constituído de contos, as histórias complementam-se entre si e o ideal é lê-las como se fosse um romance, pois farão maior sentido.

As histórias são contadas em primeira pessoa por um narrador já adulto, o qual reflete e traz suas memórias mais marcantes de sua infância, de acontecimentos aleatórios como a chegada de uma estação e detalhes/ comentários sobre sua família. Por se tratar da descrição de lembranças, o texto é narrado através de um fluxo de consciência juntamente com descrições de cenas das quais assemelham-se a uma composição de um quadro. Além disso, o tempo não é constituído de forma linear e os acontecimentos podem até mesmo se tornar confusos.

Porém, há uma pessoa na vida deste narrador que aparece em quase todos os contos que é o seu pai, um homem caracterizado por ter uma personalidade mais retraída e intimista. Dessa forma, no conto As baratas o leitor é apresentado ao processo de morte desse pai e a descrição de como ele vai apagando-se até o momento de sua morte, marcado por um acontecimento peculiar que é a aparição de baratas no lar desta família, um ser tão estranho e medonho. Entretanto, embora possa parecer estranho, a princípio, as baratas ou insetos são comuns na literatura.

É uma narrativa estranha, melancólica, com um narrador bastante solitário. A cada capítulo – ou contos, se preferir – são mostrados ao leitor até mesmo um pouco de remorso, por alguma razão, desse filho para com a morte de seu pai. De fato, é uma narrativa muito única, bonita, inteligente, não simples e extremamente diferente de muitas leituras que já fiz. Ademais, importante ressaltar que o autor, Bruno Schulz, além de escritor, também era pintor e isso fica visível em sua escrita e descrições de ambientes, paisagens e pessoas, como se estivesse descrevendo um quadro.

 

Um ótimo livro para dias e momentos de maior introversão. Recomendado!

 

Cuidado com as entrelinhas e até a próxima resenha. 

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