Tonio Kröeger, de Thomas Mann



O enredo se passará em torno de Tonio Kröeger, personagem o qual é caracterizado por uma certa sensibilidade, solidão e um pouco de inveja que percebemos logo ao início do primeiro capítulo quando ele descreve seu colega de escola, Hans Hansen, de forma que nos demonstra uma descrição de um amor infantil, mas de forma adulta: o ciúme e uma admiração tão forte para com o outro, em conseqüência de Hans ser o seu extremo oposto:

“O caso era que Tônio amava Hans Hansen, e já sofrera muito por causa dele. Aquele que mais ama é o subjugado e tem que sofrer. Esta lição simples e dura sua alma de catorze anos já recebera da vida.”
MANN, Thomas.Tonio Kröeger. P.14. Editora Abril


“Assim era Hans Hansen, e , desdde que Tonio Kroeger o conhecera, sentia ciúmes assim que o via, uma nostalgia invejosa, que se aninhava acima do peio e ardia”
MANN, Thomas.Tonio Kröeger. P. 16. Editora Abril

No decorrer do livro, ele se apaixona por uma garota, chamada Inge, a revelar traços de bissexualidade em Toni. Em uma das passagens mais lindas encontradas é quando ele descreve o exato momento que ele está se apaixonando pela moça:

“Como aconteceu isso? Ele a vira mil vezes: porém uma noite viua sob uma certa iluminação; viu como, em animada conversa com uma amiga, jogara a cabeça para o lado, e um certo modo travesso levara a mão, não muito delgada nem especialmente fina e pequena a nuca, movimento este que fez a manga de gaze branca deslizar do seu cotovelo.(...) e um êxtase dominou seu coração, muito mais forte do que aquele que sentira outrora quando, uma vez por outra, observava Hans Hansen, naquele tepo, quando ainda era um menino bobo.”
MANN, Thomas.Tonio Kröeger. P.23. Editora Abril


Engraçado, isso me fez pensar que muitas vezes nos lembramos do exato momento que nos desapaixonamos: em um cinema, em uma tarde no parque a qual a sensação não é mais a mesma, na forma como a pessoa pronuncia as palavras e isso começa a ser um estorvo, ou simplesmente quando olhamos o individuo e não sentimos mais nada, nem amizade. Entretanto, dificilmente nos lembramos de quando nos apaixonamos por determinada pessoa: se foi ao observar a forma como a luz estava em seu rosto, em uma fala, na forma peculiar como comia o almoço ou tomava café. Simplesmente, não sabemos qual foi a ocasião.

Ademais, depois de tantas paixões, já mais velho, visita sua antiga casa e com isso a sensação de nostalgia para aquele lugar que já morou e formaram uma historia por ali, muito semelhante a um poema de Manoel Bandeira intitulado como a Velha Chácara. O final é surpreendente, talvez melancólico a sua maneira e repleta de confissões.

“Não tolerou ficar por muito tempo na cidade. Sentia uma inquietação, doce e tola, meio lembrança e meio expectativa, unida ao desejo de estender-se nalguma praia silenciosa e não precisar fingir-se de turista interessado.”
MANN, Thomas.Tonio Kröeger.P.68. Editora Abril

“Estou entre dois mundos;não me sinto a vontade em nenhum dos dois e por isso tenho um pouco de dificuldade. “
MANN, Thomas.Tonio Kröeger.P.84. Editora Abril



É um livro muito curto, são menos de 100 páginas, mas, apesar da brevidade e saltos muito grandes na temporalidade do personagem, é uma narrativa que traz muita leveza e sinceridade como todo, embora seja uma leitura mais tranquila frente a sua mais gloriosa obra ‘A Montanha Mágica’. Contudo, não deixa de ser Thomas Mann.


As edições são geralmente acopladas a seu outro romance, chamado ‘Morte em Veneza’ e edição mais atualizada, que sai pela Companhia das Letras, mas pode ser encontrada facilmente em sebos.


Cuidado com as entrelinhas,

Uma boa leitura a todos! 

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