O Processo, de Franz Kafka



Imagine você, em um dia comum, ao acordar se depara com oficiais de justiça batendo em sua porta. Tudo bem até eles lhe entregarem um processo o qual os sujeitos não saibam do que se trata e,  depois, ao tentar obter informações sobre o processo, nunca alcança respostas. Você e nem ninguém sabe quem o processou e o por quê. 

Esse é, em suma, o enredo de um dos livros mais famosos do autor, além da sua importância inegável na literatura mundial, O Processo apresenta incontáveis interpretações os quais dependerá da leitura e experiências de cada pessoa.

O personagem principal, Josef K., funcionário de um banco, se vê em uma manhã com dois funcionários de um tribunal entregando-lhe um processo misterioso, ao questionar detalhes sobre o assunto ele não tem respostas e ele passa o restante do livro procurando explicações plausíveis obre quem e uma causa para esse processo. Como o próprio narrador do livro alega desde o princípio, K. é inocente e, por vezes, não leva muito a sério a situação.


“Alguém devia ter caluniado Josef K., pois, sem que tivesse feito mal algum, ele foi detido certa manhã.”
KAFKA, Franz. P. 13. Ed. L&PM Pocket.

“E qual o sentido dessa grande organização, meus senhores?  Ela consiste em deter pessoas inocentes e em encaminha contra elas um processo sem sentido e, na maior parte das vezes, assim como em meu caso, sem resultado.”
KAFKA, Franz. P. 63. Ed. L&PM Pocket.



Por conseguinte, o enredo nos apresenta muitos personagens que aparecem e desaparecem, nunca mais aparecendo na história. Ademais, a descrição dos lugares e pessoas é feita de maneira muito confusa, como em um sonho, revelando uma característica surrealista em Kafka. Isso, é bem provável, foi algo proposital para que o leitor se sinta da mesma forma como o personagem sente, uma maneira psicológica de conhecer e adentrar na mente do personagem, muito próximo ao que Dostoiévski faz e com Raskolnikov, em Crime e Castigo.

Uma boa parte dos capítulos estão inacabados, o que pode tornar a leitura ainda mais confusa e, às vezes, entediante.  Os personagens desse livro são totalmente efêmeros: chegam e vão sem nenhuma explicação aparente, sem tempo para apegar-se demais a todos eles.

Outrossim, é um livro que utilizam muitas metáforas e uma linguagem surrealista, fazendo o livro se tornar vasto em interpretações. Uma delas é uma crítica veemente a um estado repleto de burocracias, muitos casos e explicações que não tem uma coerência e sendo deixadas com um leve descaso, questionando uma democracia falsificada e também a maneira como algumas instituições de poder apresentam ambientes de difícil acesso, a tornar o poder muito inacessível, deixando-nos duvidar de sua existência, quais são suas formas de debate e conclusões. Há a analogia a banalidade do mal descrita pela filosofa Hannah Arendt, como na cena do Espancador, capitulo quinto:


“– O que dizes até soa digno de crédito - disse o espancador-, mas não me deixo subornar. Fui determinado a espancar, portanto espanco.”
KAFKA. Franz. P.108. Ed. L&PM Pocket.


Mas, como já disse, as interpretações são muitas e é um livro que exige releituras. A leitura é enriquecedora, o final muito surpreendente e vale realmente muito a pena acompanhar, embora A Metamorfose continue sendo o livro do autor que mais gostei.

Cuidado com as entrelinhas;

Tenha uma boa leitura !!!

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