A maçã no escuro, de Clarice Lispector

 


“O homem todo se reduzira a essa espécie de vigilância. O que estava lhe acontecendo era um desses períodos dos quais, depois que passam, se diz: nada aconteceu.”

“-Olhe esta samambaia! disse ela para o homem porque uma pessoa não pode dizer ‘eu te amo’ “

“E, falsa, calculada, procurava se pôr de algum modo em transe de amor. Até que finalmente, de tanto olhar o homem e de tanto se empurrar e exigir, de novo começou a sentir aquele mal-estar. Então, radiante, enfraquecida pelo esforço, ela o amava.”


Publicado em 1956 este foi um dos últimos livros em prosa escrito pela autora. Em 1961 o romance ganhou o prêmio Carmem Dolores Barbosa de melhor livro do ano.

A história inicia-se com acontecimentos e informações fragmentadas. O que temos a princípio é Martim, que aparentemente está em um quarto de hotel fugindo de algo, mas não se sabe exatamente de quê. Ao longo do enredo o leitor acompanha a partir de um fluxo de consciência o psicológico e pensamentos do personagem. 

Martim apresenta uma personalidade calma, engenhosa e dificilmente o veremos perder o controle das situações. Tais características são potencializadas diante de pessoas, do qual ele revela-se trabalhador, reservado e misterioso.

O livro tornou-se um dos meus preferidos - se não o mais - de Clarice Lispector. O romance é classificado por muitos especialistas como romance psicológico, mas eu acrescentaria também como um romance espiritual/naturalista, pois há diversas passagens que mostram a conexão da natureza para com o humano e a redução de ambos em um só sem maiores hierarquias. 

Além disso, dos temas tratados no enredo o amor é um dos principais e o mais recorrentes ao longo da história o que tive a impressão, ao término da leitura, de ter lido pela primeira vez algo tão sincero e realista sobre tal sentimento, sem firulas e dramatizações clichês. Têm-se aqui o amor em suas diversas fases, nos convidando a refletir sobre o seu lado obscuro e concomitante a sua parte bonita e melancólica, tudo isso descrito diante de muitas alegorias e metáforas. 


É um livro lindo, triste, com personagens repletos de defeitos e qualidades bastante demarcadas, enfim, humanos. Não é uma narrativa para se ler rápido e sim apreciada aos poucos, intercalada com observações sobre si mesmo, sobre a vida e pelos outros. 

Mais do que recomendado, uma leitura obrigatória!

Cuidado com as entrelinhas e até a próxima resenha.



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