Esperando Godot, de Samuel Beckett
“Vladimir: Será que dormi, enquanto os outros sofriam? Será que durmo agora? Amanhã, quando pensar que estou acordando, o que direi desta jornada? Que esperei Godot com Estragon, meu amigo, neste lugar, até o cair da noite? Que Pozzo passou por aqui, com o seu guia, e falou conosco? Sem dúvida. Mas quanta verdade haverá nisso tudo? (...) Do útero para o túmulo é um parto difícil.(...) Dá um tempo justo para envelhecer. O ar fica repleto de nossos gritos.”
“Estragon: Nascemos todos loucos. Alguns continuam.”
“Vladimir: Num instante, tudo se dissipará, estaremos sós mais uma vez, rodeados de solidão.”
Peça publicada sete anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, revela o sentimento de vazio provocado à época.
Dividida em suas partes, o enredo é caracterizado pelos diálogos dos personagens Vladimir e Estragon. Logo ao início o leitor ou espectador percebe a espera de ambos por uma pessoa chamada Godot, no entanto, a imagem de tal persona nunca é materializada.
A partir disso, acompanha-se os diálogos longos e, a princípio, sem sentido entre ambos, que até mesmo esquecem em alguns momentos da espera pelo tal Godot. Ao longo da história conhecem dois personagens, Pozzo e Lucky,também estranhos, mas que os distraem enquanto esperam pelo Godot.
Ao falar de Esperando Godot ou de qualquer obra Beckettiana a primeira sensação é de estranhamento. As interpretações são variadas ou nenhuma, contudo exporei aqui a minha visão sobre a história, visto que não é a absoluta, mas sim uma impressão de leitura totalmente pessoal e, provavelmente, terão alguns spoilers.
Mesmo depois de tanta espera, Godot não aparece em nenhum dos atos presentes, o que pode gerar uma sensação de vazio durante a peça. Presencia-se dois dias inteiros do amanhecer ao seu anoitecer, o cansaço e a incerteza são atributos marcantes pelos personagens, mas mesmo assim, eles se propõem com mais esperança, a comparecer no outro dia para esperar aquele que ainda não apareceu.
Parece sem sentido essa espera, às vezes gera até mesmo uma certa agonia ao vê-los. Só esquecemos de olhar para nosso redor e para nós mesmos.
Como assim? Você me pergunta.
A questão é que Godot pode ser uma metáfora dos nossos próprios sonhos, objetivos, esperas de algo ou alguém. Ao levantarmos de manhã, todos temos uma esperança, senão não seguiríamos adiante. Vladimir e Estragon esperam por Godot, nós esperamos passar em um concurso, no vestibular; ver aquela pessoa especial na faculdade, encontrar o seu amor em uma estação de trem qualquer, seja qual for o motivo, todos nós temos nosso Godot e, quando falta esse incentivo, nós morremos por dentro, entramos em depressão, nos suicidamos. Até porque a depressão não é o excesso de tristeza, mas a falta de esperança.
Em suma, Estragon e Vladimir são representações de nós mesmos esperando todos os dias por algo ou alguém que nunca chega e, talvez, nunca chegará. Todavia, a esperança pode preencher, mas também pode ser prisioneira e paralisar até mesmo os mais peraltas.
Quem é o seu Godot? O que e/ou quem você espera e anseia pela chegada?
Cuidado com as entrelinhas e até a próxima resenha.
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