Amada, de Toni Morrison

 



“Ela está cansada, com medo talvez, e talvez até mesmo perdida.”

“O que ele chamava de covardia, outras pessoas chamavam de bom senso.”

 

Este foi meu primeiro contato com a autora, a qual é uma das mais importantes ao tratar-se de questões raciais e escravidão.

O enredo é ambientado em 1873, período de abolição de escravatura nos Estados Unidos. Teremos ao início deste enredo a descrição de Sethe, uma ex escrava que fugiu há tempo, conseguindo mais à frente a sua total liberdade. Ela mora junto a sua filha Denver, uma moça tímida e bastante observadora e com uma figura inusitada: o fantasma de um bebê, que foi a filha de Sethe cuja qual morreu ainda muito pequena. Esta assombração tem personalidade muito própria e afasta a todos dessa casa, tornando Sethe e Denver pessoas muito solitárias. Porém, tudo muda com a chegada de um antigo amigo de Sethe, Paul D Garner a residência de ambas.

Diferente de Kindred, por exemplo, não teremos aqui relatos da escravidão em si, mas sim de como este momento influenciou em suas vidas pós-escravidão que, apesar de estarem livres, o passado retoma diversos momentos, personificado pelo fantasma dessa criança. Esse retorno ao passado é o que pode causar ao leitor uma certa confusão, porque em diversos momentos há cortes bruscos entre passado e presente o que pede bastante atenção. Outro ponto a ressaltar é a casa de numeração 124, cuja qual lembrou bastante residências como a descrita por Shirley Jackson em seu livro “Assombração da Casa da Colina”, que participava ativamente da história como se tivesse uma vida própria.  

Quanto ao foco narrativo é caracterizado pelo narrador onisciente, a linguagem é um misto de prosa com poesia, que modifica em alguns capítulos. Ademais, é um livro repleto de entrelinhas e metáforas e, se eu pudesse descrever o tema principal desta narrativa, seria o retorno do passado o qual causa um apego inconsciente àquela lembrança ou situação, que faz a pessoa ter dificuldades de deixar ir e deixar a si mesmo ser esquecido. 

Foi adaptado para o cinema com título homônimo ao livro em 1998, pela direção de Jonathan Demme com Oprah Winfrey e Danny Glover. 

Reflexivo, melancólico e escrito de forma bonita: Recomendado!

Cuidado com as entrelinhas (principalmente neste caso) e até a próxima resenha.   

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