Ardil-22, de Joseph Heller


 


“Perdido o espírito, o ser humano é lixo”

“Quantos corações estariam para sempre partidos?“

 

Hoje falaremos sobre esse livro que me fez despertar emoções que não sabia que existiam.

Escrito no contexto pós-guerra, em um mundo que o American Way of Life fazia sucesso com a simulação de vidas perfeitas, Heller trouxe uma narrativa que mostrava um lado obscuro da guerra e da sociedade.

A história será feita tanto em primeira quanto em terceira pessoa. Cada capítulo será dedicado a um personagem diferente e, dessa forma, conheceremos cada um deles e suas diferentes personalidades, embora tenham algo em comum: estão na  guerra e são soldados. Porém terá como principal, Yossarian, considerado a princípio como a pessoa mais insana do batalhão, pois em diversos momentos nós leitores concordaremos com tal afirmativa, visto que ele realmente apresenta atitudes bem incompreensíveis. Contudo, esse cenário e opiniões tenderão a mudar constantemente conforme caminha a leitura.

Como dito são muitos personagens e cada um mostrará uma face da guerra, uma forma de o autor criticar tal ato humano. Além disso, é veemente a forma como a loucura é um quesito importante e, porque não, o assunto principal deste livro. Afinal, o que é ser louco? Yossarian é realmente a pessoa mais maluca daquele batalhão? Será que todos não são, de alguma forma, loucos e problemáticos sob um olhar mais próximo?. 

É, de fato, um livro de altos, muitos altos e baixos; é um livro engraçado, empolgante, triste, deprimente, divertido, nonsense, crítico e complicado, tudo isso de uma só vez. De forma quase simultânea fará você rir, em dois capítulos seguintes mostrará uma situação a qual despejará em seu rosto bonito de leitor o quanto você foi cruel de ter soltado uma gargalhada dois capítulos anteriores. Ademais, se você for mulher, terá de ler algumas passagens nem um pouco agradáveis das quais, sinceramente, me incomodaram muito. Por exemplo, (isso pode ser um spoiller) o que ocorre no capítulo “Cidade Eterna”. Vejamos:.

“-Eu só a violentei uma vez – explicou ele

Yossarian ficou atônito.

-Mas você a matou, Aarfy! Você a matou!

-Ora, eu tinha que fazê-lo, depois qua violentei – respondeu Aarfy, numa atitude condescendente – Não podia deixá-la sair por aí para dizer coisas horríveis a nosso respeito, não é mesmo?

(...)

-Seu idiota! Será que não compreende o que fez? – Yossarian sentiu vontade de agarrar os ombros bem nutridos de Arfy e sacudi-lo até que entrasse i, bom-senso na cabeça dele – você assassinou um ser humano, Aarfy! Vão metê-lo na cadeia por isso. Podem até enforcá-lo!

-Oh, não, dificilmente eles farão uma coisa dessas!- Disse Aarfy com uma risada jovial, embora seus sintomas de nervosismo aumentassem vísivelmente. Ele derramou metade do tabaco sem perceber, enquanto os dedos gorduchos remexiam no cachimbo. – Não senhor, não vão fazer nada disso com o velho Aarfy. Ela era apenas uma criada. Dificilmente vão armar uma confusão dos diabos por causa de uma pobre criada italiana, quando há milhares de vidas que se perdem diariamente. Não concorda comigo? “

(p. 510 e 511)

 

Confesso que foi muito difícil ler esta parte, porque a minha vontade era puxar o Aarfy para uma conversa sincera até ele perceber o quão ridículo ele estava sendo. Mas, além disso, o livro apresenta constantemente a figura feminina apenas como um objeto, visto que há muitas prostitutas das quais os soldados relacionam-se e tudo o mais, porém sinto que o autor trouxe isso de forma proposital. 

De qualquer maneira, não posso negar que o livro é incrível e, infelizmente, desconhecido. Já faz muito tempo que temos apenas essa edição da BestBolso disponível, até porque é uma história que merece ser mais divulgada, lida pelas pessoas em uma melhor diagramação também.

Houve adaptação cinematográfica homônima, dirigido por Mike Nichols, de 1970. Também ganhou o título o 66º episódio da série Lost, terceira temporada, chamado “Ardil-22”.

Fica a recomendação de um livrão para vocês. Cuidado com as entrelinhas e até a próxima resenha.

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