Cidade de Deus, de Paulo Lins

 


“Mas pode alguém enxergar o belo com olhos obtusos pela falta de quase tudo de que o humano carece? Talvez nunca tenha buscado nada, nem nunca pensara em buscar, tinha só de viver aquela vida que viveu sem nenhum motivo que o levasse a uma atitude parnasiana naquele universo escrito por linhas tão malditas.”

 

A história ficou bastante conhecida por conta do filme homônimo, de 2002, dirigido por Fernando Meirelles e Kátia Lund, porém o que poucos sabem é que o longa foi baseado neste livro.

A narrativa é dividida em três partes, das quais cada uma tem como foco um personagem específico, entretanto trazendo diversas histórias paralelas da quais ocorrem no mesmo ambientes. A partir desses enredos, o leitor tem acesso a tramas que abordam muita, mas muita violência, convivência e realidades ali inseridas. Nenhum dos personagens apresentados tem um caráter moral idealizado, mas sim aproximam-se da figura de anti-herois.

A princípio, todos parecem destinados a miséria, crime e bandidagem, mas ao adentrar mais profundamente temos que esses personagens vivem nada menos do que em total invisibilidade social a qual através de uma visão vaga e superficial, pode trazer a te mesmo a ilusão e romantização da vida do crime.

O enredo é construído de forma que lembra um livro-documentário. Paulo Lins não tem piedade do leitor, de maneira que diversas cenas de violência são descritas de maneira a fazer você imaginar como aquilo está sendo feito, como se estivéssemos assistindo um filme. Dessa forma, temos uma narrativa a qual desconstrói o estereótipo comumente visto a respeito de pessoas de periferias, como abordados em programas de cunho sensacionalista. Em Cidade de Deus, o universo de extrema violência e miséria das periferias do Brasil são constantemente contrastadas com os sonhos e subjetividades dos personagens que as habitam.

Um livro mais do que recomendado, até mesmo necessário em alguns casos.

Cuidado com as entrelinhas e até a próxima resenha. 

Comentários

Postagens mais visitadas